Penso que no estágio que atingiu a globalização dificilmente teremos um mundo mais humano, a não ser que haja uma orientação geral, em vista de se obter a paz. Mas será que a paz é o objetivo maior das lideranças que governam o mundo neste momento? Sabemos que o desejo de paz está no coração humano, mas a guerra é desejada e promovida por muitos interesses escondidos.
Mesmo diante da máxima cunhada por um dos impérios mais violentos da história, o Império Romano (Si vis pacem para belum – se queres a paz prepare a guerra), a humanidade deseja a paz, e reconhece o esforço de pessoas que trabalham na sua construção. Atingimos um progresso fantástico com inúmeros avanços, porém, não há um rumo comum para direcionar o futuro. Qual seria esse rumo comum? A paz! É sempre a justiça, busca do bem comum, da dignidade da pessoa humana. Sem isto não há paz.
Durante décadas pareceu que o mundo tinha aprendido com tantas guerras e fracassos. Lentamente ia caminhando para a integração e união. Mas a história dá sinais de regressão. Reacendem-se conflitos, ressentimentos e agressividades. Hoje, a paz está ameaçada. Precisamos mais que nunca promover a cultura do encontro e dizer não à cultura do confronto.
O Papa Francisco afirma que os conflitos locais e o desinteresse pelo bem comum são instrumentalizados pela economia global, para impor um modelo cultural único. “Encontramo-nos mais sozinhos do que nunca neste mundo massificado, que privilegia os interesses individuais e debilita a dimensão comunitária da existência” (FT 12).
Neste contexto, a mensagem do Evangelho brilha com novo esplendor em nossos dias. Jesus proclama felizes os construtores da paz “porque serão chamados filhos de Deus”(Mt 5,9). Assim, Jesus nos garante que a causa da paz é uma causa de Deus. O apóstolo São Paulo ensina que o verdadeiro Deus é Deus da paz (1 Cor 14,33) e ainda escreve: “Cristo é a nossa paz”(Ef 2,14). São Tiago na sua carta afirma que a sociedade regida com a sabedoria de Deus é pacífica: “De fato, para os que trabalham pela paz, um fruto de justiça é semeado pacificamente”(Tg 3, 18).
A maneira de preservar e promover a paz é sempre o diálogo, a cooperação mútua entre as pessoas e os povos, o esforço em aparar as arestas que podem gerar conflitos insolúveis. John Kennedy disse: “A humanidade deve por fim à guerra, ou a guerra porá fim à humanidade”. E isto mais que nunca é verdade, dado ao poder letal das armas sofisticadas, com alto poder de destruição existentes hoje.
Permitam-me terminar esta reflexão citando parte do célebre discurso do papa São Paulo VI proferido na Organização das Nações Unidas (ONU) em 04/10/1965: “Nunca mais a guerra! A paz, a paz deve guiar o destino dos povos e da humanidade toda! Se quereis ser irmãos, deixai cair as armas de vossas mãos. Não se pode amar com armas ofensivas em punho”
“A paz terrena, nascida do amor do próximo, é imagem e efeito da paz de Cristo, vinda do Pai”, é o que afirma o Vaticano II (cf. GS 78). Só quem tem Deus no coração, portanto, pode promover a paz. A guerra é instrumento deste mundo material que passa. A paz é atributo do mundo futuro, a eternidade, que não terá fim.
Trabalhemos pela paz, vencendo o mal fazendo o bem.
* Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André
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