Pelos fins do século I, o Evangelho havia penetrado na própria aristocracia romana. De fato se lê na História Eclesiástica de Eusébio de Cesareia: “Referem que no ano quinze de Domiciano (95 d.C.), Flávia Domitila, sobrinha por parte de irmã de Flávio Clemente, que era então um dos cônsules de Roma, juntamente com numerosas pessoas, foi deportada para a ilha de Ponza por ter confessado Cristo”. O historiador romano Cássio Díon afirma por sua vez que o imperador Domiciano “tirou a vida, com muitos outros, de Flávio Clemente, não obstante ser ele seu primo”, acusando-o de “ateísmo’’. Ateus eram chamados os cristãos por não adorarem os deuses de Roma. “Muitos — acrescenta o historiador romano — desviando-se com costumes dos judeus tiveram a condenação à morte ou o confisco dos bens”.
Após meio século de vida da comunidade cristã que tanto progredia em Roma, ainda eram confundidos, pelos romanos, os cristãos e os judeus. Flávia Domitila foi deportada para a ilha de Ponza, onde “sofreu longo martírio”. São palavras de são Jerônimo, que refere que a viúva Paula, por ocasião de sua viagem ao Oriente, passou na ilha para visitar os lugares onde viveu a santa. A escassez de notícias a respeito da patrícia romana que pagou duramente a sua fidelidade a Cristo é compensada por uma lendária passio, não anterior ao século V, que se extravasa em narrações de detalhes pouco verídicos. Fala-se aí de dois eunucos, Nereu e Aquiles, os quais enquanto Domitila se preparava para o casamento com Aureliano, filho de um cônsul, falaram-lhe de Cristo e da beleza da virgindade “a virtude dos Anjos”, convencendo-a a renunciar ao matrimônio e cobrir a cabeça com o véu branco que distingue as virgens de Deus.
O imperador Domiciano, instigado pelo noivo abandonado, teria mandado a menina para a ilha que foi o lugar de detenção das filhas de Calígula e de um filho de Germânico. A Nereu e Aquiles coube a mesma sorte. Aureliano, após ter procurado em vão corromper os dois servos para que fizessem Flávia Domitila desistir do seu propósito, fez decapitar a ambos. Uma tentativa de amolecer o coração da ex-noiva com uma tarde dançante resultou na morte do próprio Aureliano; um irmão seu, por vingança, pôs fogo na casa de Domitila, que pereceu no grande incêndio, vítima do amor por Cristo. Embora muito sugestivo, este conto parece totalmente lendário.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.
FONTE: PAULUS
Source: Igreja no Mundo