Na Bíblia sagrada Deus diz a Moisés: “Eu ouvi os clamores do meu povo”(Ex 3,7). Hoje também Deus continua ouvindo. O fato histórico narrado na Bíblia serve para reflexão de todos. Sabemos o que aconteceu aos que oprimiam o povo hebreu. Deus tarda mas não falta, “Ele é urgente, sem pressa” (Guimarães Rosa).
Reporto aqui esta mensagem dos bispos ao povo brasileiro, a qual ajudei a redigir como membro do Conselho Permanente da CNBB.
“A paz de Jesus Cristo, que proporciona vida em abundância e alegria plena, é um dom precioso de Deus e desejo de todo o ser humano de boa vontade. Infelizmente, o mundo escuta hoje, estrondos da guerra, gemidos da fome, o barulho dos tiros que ceifam vidas!.
Soma-se a isso a indiferença, que fecha olhos e corações, as desculpas para nada fazer e as “fake-news” em seu esforço por tudo encobrir em cortinas de fumaça.
As guerras vão-se multiplicando em diversas regiões do mundo, somando-se às cenas que nos chegam da Ucrânia através da mídia. São invisíveis os conflitos como em Moçambique, Iêmen, Etiópia, Haiti, Mianmar, entre tantos outros, que assumem hoje os contornos de uma “terceira guerra mundial por pedaços” (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 25).
É urgente escutar as vozes dos que, vitimados por variadas formas de violência, clamam por justiça e paz. Esta realidade não pode ser naturalizada. É impossível aceitar o extermínio de irmãos e irmãs. Seus corpos sem vida clamam por justiça e responsabilização. Suas memórias e seus sonhos de paz devem permanecer vivos entre nós.
A desigualdade social, gerada pela concentração de renda, os conflitos religiosos, o ataque sistemático aos territórios dos povos tradicionais, o desprezo e o rechaço aos migrantes e o flagelo da fome são algumas das formas da violência estrutural nos tempos de hoje.
Urge não fechar os olhos diante da loucura da corrida armamentista no Brasil. O número de caçadores, atiradores e colecionadores de armas de fogo (CACs), aumentou 325% de 2018 a 2021. “O gasto com armas é um escândalo, suja o coração, suja a humanidade” (Papa Francisco, 21 de março de 2022), particularmente quando alimentado por discursos fundamentalistas, inclusive religiosos, que transformam adversários em inimigos e comprometem a fraternidade.
A violência precisa ser estancada. Diante de tantas situações que nos envergonham, nós, bispos do Conselho Permanente da CNBB, voltamos a erguer nossa voz para denunciar a violência e solidariamente clamar por paz. Unimo-nos a todas as pessoas e entidades que, de coração sincero, se empenham nessa direção. Enxergamos nesse esforço o Espírito do Deus da Vida que não nos permite desanimar, nem nos deixa enredar pelas artimanhas do mal.
A vida é o maior dom! Cuidar responsavelmente da vida implica trabalhar artesanalmente pela paz (Papa Francisco, FT 225), a justiça social e o bem comum, sempre no respeito pelas diferenças, valorizando a liberdade religiosa e a verdade, dialogando até a exaustão, pois tudo isso é condição para a verdadeira paz.
Por isso, expressamos, nossa palavra de esperança: aos sofredores, que não desistam, aos que têm poder de cuidar, defender e promover o bem comum, que não se omitam e aos que diretamente ferem e destroem a paz, que se convertam!
Unamo-nos em favor da paz! Não nos deixemos abater! Não nos deixemos frustrar! O Bom Deus escuta os clamores de seu povo!”
Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo diocesano de Santo André
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