Na manhã de quarta-feira, 7 de setembro, dia da Independência do Brasil, a Diocese de Santo André, através da Comissão de Justiça e Paz instituída em maio, organizou o 28° Grito dos Excluídos e Excluídas.
O Grito dos Excluídos acontece no Brasil desde o ano de 1995, em paralelo às comemorações do dia 7 de setembro. Neste dia, a Igreja do Brasil nos convida para um outro grito, bem distinto daquele proclamado às margens do Rio Ipiranga, que nos convoca a escutarmos o som que ecoa nas periferias existenciais e sociais e para gritarmos por todos aqueles que não possuem voz.
Com o lema “Vida em primeiro lugar” e o lema o “Brasil: 200 anos de (In)dependência. Para Quem?” , o 28º Grito dos Excluídos e Excluídas, reuniu pastorais sociais da diocese e Movimentos Sociais, visando sensibilizar a população e as autoridades civis dos principais problemas vividos pela população propondo debates e soluções em atenção aos mais vulneráveis.
O evento teve início às 8h30 na Paróquia Santo André Apóstolo, a matriz rosa, em Santo André, presidida pelo vigário para caridade social Padre Ryan Holke, MIPK, de onde os participantes saíram em caminhada até a Catedral Nossa Senhora do Carmo, também em Santo André.
Padre Ryan refletiu durante a celebração eucarística sobre a casa comum: “Queridos irmãos e irmãs queridos para desejar a nós aqui presentes as palavras que acabamos de ouvir, seja do Evangelho, seja também do Antigo Testamento. Vem nos lembrar que Deus anuncia a nós uma mensagem de paz, uma mensagem de vida. E se nós pensássemos neste mundo que nós vivemos? Deus preparou tudo. Desde a criação do planeta, com todos os minerais que nós iríamos precisar, e depois a evolução dos seres, os oceanos, a atmosfera, a água, as plantas e tudo o que vinha produziu ainda mais vida. Mas o que aconteceu com esse mundo tão bonito, tão perfeito, que Deus nos presenteou? Aí entra a liberdade do ser humano. É através da entrada no mundo do pecado, da injustiça, do ódio, da maldade.”
Ao final da celebração, Padre Tiago Síbula, pároco da matriz rosa, leu a mensagem do bispo diocesano Dom Pedro Carlos Cipollini destinada a todos os presentes:
“Para estabelecer a paz na sociedade é preciso a política. Só existem duas maneiras de governar: com a política ou com o canhão, já dizia alguém. A palavra política vem do grego Polis-cidade. Política é a arte de governar a cidade, a sociedade. É um conjunto de medidas articuladas, visando conseguir um objetivo que favoreça a população. Uma política sadia, a verdadeira política, é a arte de trabalhar pelo bem comum, o bem comum compreende o conjunto das condições de vida social, que permite às pessoas, famílias e às sociedades atingir mais facilmente a consecução de seus fins. É no dizer do papa Paulo VI, uma forma elevada de caridade, quando vivida como prestação de serviço à sociedade (cf. AO 24). O termo política se torna pejorativo quando se inspira na ideia de que o fim justifica os meios, separando assim a política da ética. De fato a política que faz bem ao povo, deve fundar-se na verdade, liberdade e solidariedade. Pergunta-se: a Igreja deve meter-se em política? Se nos referirmos à política como a arte do bem comum, sim. Mas se nos referirmos à política partidária, não. Cada um deve escolher seu partido conforme sua consciência. O Concílio Vaticano II nos deixou esclarecido: “A Igreja, em razão de sua finalidade e competência, de modo algum se confunde com a comunidade política e nem está ligada a nenhum sistema político. Porém ela é sinal e salvaguarda do caráter transcendente da pessoa humana. Cada uma em seu próprio campo, a comunidade política e a Igreja são independentes e autônomas uma da outra. Ambas, porém, embora por título diferente, estão a serviço da vocação pessoal e social das pessoas” (GS n. 76). O dever de participar na política é de todos os cidadãos, inclusive dos cristãos. Se a política é ruim, sem participação fica pior. E uma das formas de participar ao alcance de todos é o voto. Estamos às vésperas das eleições e é preciso se preparar para votar, e votar bem! Não se deve aceitar ser um analfabeto político, como o descreveu Bertold Brecht: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.
Em todo percurso caminhado até a catedral diocesana, foi realizado reflexões sobre o direito dos povos originários (indígenas), a luta contra o racismo, a inserção dos excluídos, a preservação da casa comum e muitos outros temas foram abordados.
Mariana Bonotto, professora de escola pública, membro do Setor Inclusão e do Conselho Diocesano Feminino da Diocese de Santo André, esteve também presente no ato, e ressalta a importância da luta pela inclusão em todos os âmbitos da sociedade: “Como Católica praticante me sinto honrada em ver que mais uma vez, e sempre, a Igreja Católica segue os princípios ensinados por Jesus Cristo: ser luz no mundo, ser irmão do meu próximo. Jesus é o Verdadeiro Mestre, Ele é Filho de Deus, mas usou toda sua Sabedoria, Conhecimento e Qualidades para o bem de todos, igualmente hoje a Igreja Católica se coloca a disposição de mediar diálogos com grupos e movimentos diversos para levar a Esperança no Cristo Ressuscitado a TODOS os brasileiros, para evidenciar as feridas e buscar o remédio para elas. Poder participar deste dia, trazendo uma fala construída no coletivo por diversos educadores, que como eu, acreditam no sonho da Educação Pública como forma de redução de desigualdades, de promoção da cidadania e do bem comum foi uma honra que só com a Luz e Força do Espírito Santo foi possível realizar.”
Os franciscanos conventuais do Santuário Senhor do Bonfim em Santo André, na presença do Frei Carlos, Gustavo e Arildo enfatizaram sobre o carisma franciscano junto com a pobreza, os mais necessitados ou aqueles que estão à margem da sociedade: “ Para nós que vivemos a fraternidade, junto a pobreza e aos mais necessitados, acreditamos que esse ato tem como importância é a valorização da nossa própria história, que a Diocese de Santo André sempre foi uma muito profética, a favor do povo, a favor daqueles que mais precisam, onde estão. Além de estar com a história, vivendo na história, de pensar nesse bem comum de todos”.
Diácono Fabiano Arruda que tem uso de ordem para o Vicariato Episcopal para Caridade Social, que tem um trabalho com a população de rua cita a importância de dar voz aos que são excluídos pela sociedade: “ Infelizmente eles são um número para a sociedade, mas pra Deus é uma vida. Falta de uma política pública para que o acolhimento desses irmãos não seja simplesmente o acolhimento, mas uma mudança de vida, uma perspectiva de mudança. “
Atuante também em toda preparação do 28° Grito dos Excluídos e Excluídas, o Diácono Renan Evangelista celebra o final da caminhada: “É um sonho realizado, porque o grito acontece há mais de 20 anos, mas trazer para o ABC, para sete cidades, ato que já acontecia em São Paulo e em Aparecida, demandou da nossa equipe muito trabalho, muitas reuniões, mas eu percebo que a missão foi cumprida. A proposta de ser um ato começando com a missa, a participação efetiva das pessoas, é um ato apartidário, lutando pelas causas. E aí é uma convergência que esse é o objetivo do ato que causa da fome, da justiça, da educação. Isso é comum para nós cristãos, mas também para os movimentos sociais. Nesse ponto, houve um diálogo muito grande e a Igreja, que sempre preza pela democracia, nós conseguimos conversar e buscar uma pauta comum, que é a vida em primeiro lugar para nós, Jesus veio para trazer vida e vida em abundância e todo aquele que defende a vida não é nosso inimigo, mas nosso parceiro.”
Source: Diocese