Homilia do 7º Domingo do Tempo Comum
Leituras: Lev 19,1-2.17-18; 1Cor, 3,16-23; Ev. Mt 5,38-48
“Jubileu de 60 anos de sacerdócio do Pe. Carlito e 45 anos de sacerdócio de Dom Pedro”
Caros irmãos e irmãs. Prezados padres Carlito, nosso jubilando desta noite e Pe. Jean pároco desta paróquia, na pessoa dos quais saúdo todos os demais: os diáconos, religiosos e religiosas, seminaristas, todos vocês que formam esta bela assembleia unida na fé, os que estão presentes e os que nos seguem pela internet.
O que nos diz a Palavra de Deus? Os ensinamentos de Jesus no sermão da Montanha foram sempre objeto de discussão e de mal entendidos. Os próprios cristãos participam dessa atitude. As exigências de Jesus, sobretudo no que diz respeito amor, parecem impraticáveis. Seria uma espécie de luxo para religiosos e outras elites da fé.
Não obstante a exigência de amar todos os irmãos, até sacrificar-se por eles, e também amar os inimigos, não é um conselho, um luxo de nossa religião, de nossa fé. É o mandamento, (Jesus está mandando) o mais importante da ética cristã. Diante dessa exigência nos sentimos confusos e muitas vezes impotentes. Sabemos o quanto é difícil amar, mais ainda amar os nossos inimigos e orar pelos que nos perseguem.
Por outro lado, sabemos também que se não tentarmos viver segundo essas exigências não seríamos cristãos. A linha divisória entre o paganismo, a descrença e o cristianismo é a capacidade de amar (amor ágape=doação e serviço), não só os que nos amam, e de cumprimentar não só os que são nossos irmãos, os que são do nosso grupo…
Essas exigências não podem ser cumpridas com um simples esforço de vontade. Não entendemos o sermão da Montanha se não vemos nele, além das exigências radicais, uma fonte de graça que nos possibilita ser fiéis. A maior originalidade do ensinamento de Jesus não é a força dessas exigências mas a razão e a inspiração que ele nos da para que possamos cumpri-las. Amar é uma descoberta, uma graça de Deus, uma realização humana que se chama santidade. O santo é o que descobriu como entrar no dinamismo do amor e entrou…
Devemos ser radicais no amor fraterno, porque Deus é assim e nós, filhos de Deus, temos que imita-lo. “Deste modo vos tornáreis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos”.
No fundo, trata-se de imitar Deus de ser bons e perfeitos como ele, como filho que imita o Pai. Nisso está a chave para se compreender o sermão da Montanha e a radicalidade das exigências de Jesus. Jesus não exige de nós coisas, cumprir normas… Exige que sejamos como nosso Pai do céu, o qual é fonte de todo bem. Nessa imitação identificando-se com o seu amor e a sua misericórdia, o amor aos inimigos e o perdão das ofensas, tornam-se o fruto de nosso crescimento como filhos de Deus.
É mais fácil de odiar do que amar. Amar exige opção, é uma escolha, exige generosidade e doação. Mas é quando amamos que nos tornamos verdadeiramente humanos. Somente o amor pode transformar o mundo. Santa Teresa de Calcutá afirmava que “existem muitas pessoas más por que ainda não foram suficiente amadas”.
O cristianismo não está fundado sobre o legalismo mais sobre o mandamento do amor. Alguém afirmou que a beleza salvará o mundo. Mas em qual beleza estava pensando? A beleza revelada por Jesus na cruz que foi capaz de dar a vida por amor. E nós a quem de fato amamos? Como tratamos os nossos inimigos e aqueles que nos ofendem? Nunca é demais lembrar que no Pai Nosso, pedimos ao Pai do céu: perdoa-nos como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
O ensinamento de Jesus é bem diferente do ensinamento deste mundo. Jesus ensina a amar o que leva á felicidade e à vida. O mundo ensina o ódio que leva á violência e á morte. Por isso S. Paulo afirma que a sabedoria deste mundo é insensatez”, ou loucura diante de Deus.
Por fim, digo também uma palavra sobre nosso aniversário de vida sacerdotal. De fato unimos hoje à ação de graças eucarística da santa missa, a gratidão pelo chamado à vida sacerdotal. Padre Carlito cumpre 60 anos de vida sacerdotal (17/02/1963) e eu 45 anos (25/02/1978). Por que existem os padres? Para prosseguir a missão de Jesus. E qual é esta missão? Difundir no mundo o mandamento do amor, o novo mandamento: “amai-vos como eu vos amei”.
O sacerdote é o amor do coração de Jesus, disse o Cura d‘Ars, amor para viver e mostrar ao mundo este mesmo amor que salva. Cada padre vai viver este amor na missão que Deus lhe confia, do modo como lhe é possível.
Todos sabemos como o Pe. Carlito vive seu ministério sacerdotal: na alegria e disponibilidade. Muito responsável, levando a sério seu sacerdócio. Mesmo a idade não o deixa abatido, deprimido ou se fazendo de vítima. Aliás, as limitações da idade não o impedem de fazer sua parte, de amar com alegria. Nossa Igreja de Santo André é muito grata ao senhor pelo seu ministério, sua “diocesaneidade”, que o faz amar nossa Diocese e se sentir bem nela e no convívio dos irmãos.
De minha parte sempre quis ser padre, desde pequeno e o Senhor me deu esta graça. Procurei viver intensamente meu ministério de presbítero nas paróquias por onde passei. Fui nomeado pároco 21 dias após minha ordenação sacerdotal com 24 anos… Depois o Senhor me chamou para ser bispo e aqui estou feliz assim como fui quando padre, não em meu nome, mas em nome de Jesus.
Rezem por nós, para que continuemos a ser fiéis, aprendendo cada dia a amar e servir melhor. Amém!
Dom Pedro Carlos Cipollini
Source: Diocese