Para a edição especial do dia 25 de dezembro, nosso bispo Dom Pedro Carlos Cipollini, concedeu uma entrevista ao Diário do Grande ABC, contando um pouco sobre a sua história e a importância de celebrar o Natal, confira abaixo a entrevista:
Nome: Pedro Carlos Cipollini
Idade: 71 anos
Local de nascimento: Caconde-SP
Formação: Doutorado em Teologia
Hobby: Leitura
Local predileto: Campos do Jordão-SP
Livro que recomenda: As chaves do Reino de H. Cronin
Personalidade que marcou sua vida: Cardeal D. Paulo Evaristo Arns
Profissão: religioso
Onde trabalha: Diocese de Santo André
1- Vamos começar pela trajetória do senhor. Hoje, bispo diocesano… como foi parar na carreira apostólica?
Desde pequeno sempre desejei ser padre. Me interessava conhecer Jesus. Frequentava a Igreja, este desejo cresceu. Ingressei no seminário, estudava muito, porque me diziam que um padre deve conhecer bem a Bíblia, a Doutrina e a Sociedade. Fui incentivado e apoiado. Tornando-me padre meus bispos me confiaram muito trabalho, em várias atividades. Isto foi bom, porque me preparou para assumir maiores responsabilidades.
2- Quais são os desafios que enfrenta nesta trajetória? Apesar deles, o que te move a continuar?
Os desafios foram muitos e de várias naturezas. As etapas de nossa vida trazem, cada uma seus desafios, dúvidas, mas também vitórias. Os maiores desafios que passei foi me adaptar a tantos locais para onde meus bispos me mandaram, desde paróquias em locais diferentes, até estudar em Roma. Morar no estrangeiro não é fácil, principalmente estudando em uma Universidade de renome e exigente. Quando assumi a Diocese de Santo André, o desafio foi enorme, problemas acumulados sem resolver e dívida. Os desafios de ordem pessoal também contam. Nem sempre você está preparado, mas tem que ir avante. E o que me move a continuar é a fé e amizade com Cristo, o amor pelo Evangelho de justiça e paz que se deve viver e anunciar.
3- Imagino que tenha já liderado em outras localidades, que não Santo André. E, partindo do pressuposto que cada comunidade tem suas particularidades, como pode definir o povo de Santo André?
O povo de Santo André, do Grande ABC em geral, é solidário, alegre, participativo. Me identifico com o povo daqui. Tenho alegria em encontrar as pessoas. Visitei todas as 106 paróquias de nossa Diocese e as 255 Comunidades, nos sete municípios do Grande ABC. Rezei missa, conversei com as pessoas e me confraternizei. Admiro o senso de responsabilidade, trabalho e vontade de encontrar soluções para as dificuldades, que as pessoas tem. Sobretudo me surpreende a resiliência e otimismo, não obstante as injustiças que existem e já poderiam ter sido superadas.
4- Mata a curiosidade para os leitores, sobre a sua coluna no jornal, a “Palavra do Bispo”. Como surgiu a oportunidade? Já escreveu outra coluna antes? Como é e o que acha do processo de produção? Já viu frutos disto?
Escrever no Diário do Grande ABC é para mim um modo de contribuir e dialogar com a sociedade. Já fazem oito anos e surgiu de forma inesperada. Quando fui eleito bispo de Santo André, em 2015, um jornalista do Diário, o Nilton Valentim, entrou em contato comigo, solicitando-me o envio de uma mensagem para o povo. Enviei prontamente e agradeci a oportunidade. Quando aqui cheguei fui surpreendido com o convite de escrever regularmente para o jornal e aceitei. Eu já colaborava em Campinas onde morava, com um jornal da cidade, no qual escrevia regularmente também por muitos anos. Encontro muitas pessoas que me dizem apreciar a coluna, outros dizem que recortam e guardam. Já encontrei uma professora aposentada que disse fazer reuniões com as amigas em sua casa e, algumas vezes se serviram dos artigos para iniciar uma conversa. Os frutos disso só Deus sabe, a gente vai semeando…e agradecendo a oportunidade!
5- É comum observar quem aproveite esta data sob a ótica dos presentes ou nascimento de Cristo. Mas o que o Natal realmente significa para o senhor?
O Natal é uma data maravilhosa porque comemora o nascimento de Jesus, o Filho de Deus que se fez homem para nos salvar, comunicando o amor de Deus por nós. Infelizmente, vem perdendo espaço na nossa sociedade que se tornou materialista. Esta data se converteu em ocasião de consumir e “sumir”, ou seja fazer comprar e viajar. No entanto, permanece o apelo à fraternidade e à poesia que envolve esta data. A humanidade tem fome de Deus, da beleza e do amor, sobretudo. O Natal nos trás isto.
6- Conta para a gente uma memória de Natal que te marcou. Detalhe: como hoje é a sua celebração de Natal?
Quando eu era criança, meu pai sempre colocava um presente de natal ao lado da minha cama e de meus irmãos. Só de manhã quando acordávamos, víamos o presente. Ficavamos em dúvida se seria o papai Noel ou o papai mesmo! Um ano, meu pai me deu um presépio dentro de uma bela caixa. Fiquei encantado, me marcou. Hoje celebro o Natal nas comunidades onde rezo as missas e em casa, algo muito simples. Este ano vem minha sobrinha e seu marido, passar o Natal comigo.
7- Este modo de comemorar mudou conforme os anos? *Se tiver celebrando entre irmãos/igreja, há quanto tempo tem sido assim e como foi a sensação de mudar o estilo de celebração?
Sim mudou, principalmente o espírito do Natal, ou seja o significado original da data foi se perdendo, que é o nascimento de Jesus. Mas ainda permanece o desejo de fraternidade no íntimo das pessoas, impulsionado por esta data!
8- Principalmente para os cristãos, acredita que nos últimos anos, com a pandemia e a tecnologia, o Natal ganhou um novo significado? Reflita conosco os lados bons e ruins disto.
Com a pandemia muitas coisas adquiriram uma nova dimensão. Com ela perdeu-se o sentido e a vontade de se reunir, de estar junto para comemorar. Tudo isto ficou mais virtual. O individualismo cresceu! Mesmo levando-se em conta as vantagens da comunicação virtual, temos que admitir que nada substitui a presença. O melhor presente é sempre a presença.
9- Para quem não gosta mais do Natal, o senhor dá algum conselho/dica para reacender o “clima natalino”?
O “clima natalino” depende muito de se ter um coração aberto, que se deixa surpreender por Deus, pelas coisas boas da vida. O Natal só pode ser compreendido e vivido na fé, ou ao menos num clima de otimismo: “está escuro, mas eu canto”, diz o poeta. O Natal nos ensina que, quando a noite se torna mais escura é que começa a clarear o dia.
10- Qual palavra usa para definir este ano? E por quê?
Este ano foi cansativo. Sinto isto nas pessoas, por vários motivos. Os problemas sociais que existem, desde a crise climática, violência, insegurança alimentar para não dizer fome e os problemas na área da saúde, deixam as pessoas desanimadas. Principalmente a falta de perspectivas é notória. Antes se dizia que o Brasil era o pais do futuro e agora parece que é um pais sem futuro, especialmente para crianças e jovens. É só ver a situação que está a educação. Precisamos no entanto caminhar de esperança em esperança.
11- O que a igreja espera para as eleições de 2024? Aliás, como foi o relacionamento com a atual gestão?
Esperamos eleições menos polarizadas. Que as pessoas voltem a acreditar que a política é a forma de resolver os problemas da sociedade, e não o conflito e a violência. Mesmo com políticos que deixam a desejar, por não terem vocação e acabar fazendo dela um meio de vida. O relacionamento com a atual gestão aqui de Santo André foi positivo.
12- Na última segunda-feira, o papa Francisco afirmou que passará a permitir que padres concedam benção a casais do mesmo sexo. Como o senhor vê esta questão? *Seria importante também o senhor comentar a repercussão dada na igreja, como lidará agora com as solicitações para benção aqui em Santo André, se acha que a igreja precisa avançar/recuar em tais pautas.
A permissão para estas bênçãos está causando polêmica. De um lado os que acusam a medida de relativismo, de outro os que veem atitude misericordiosa. O importante é que esta permissão não alterou a doutrina com base na Bíblia: para a Igreja Católica, casal e matrimônio é somente entre um homem e uma mulher. Esta benção não é litúrgica nem sacramental, não pretende legitimar uniões homoafetivas. A intenção é acolher as pessoas, mesmo estando nesta situação. O Papa quer demonstrar que não compactua com a eliminação violenta de pessoas nesta situação. Como acontece em muitos países, onde os homossexuais vão para a prisão ou onde há pena de morte para estes casos. Na Inglaterra o homossexualismo somente deixou de ser crime passível de prisão a poucos anos. Inclusive no Brasil é alto o número de assassinato de homossexuais. Vejo a permissão para esta benção, como um apelo à tolerância e não como aprovação.
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