A tradução da 3ª Edição Típica do Missal Romano, usada em nossa Diocese desde o Advento do ano passado, faz-nos contemplar a beleza dos textos litúrgicos e nos interpela a compreender melhor, para que possamos participar plena, consciente e ativamente
da celebração, colhendo dela os frutos necessários (cf. Sacrosanctum Concilium, 21) para nossa caminhada em direção ao Reino de Deus. Aos poucos, percebemos a importância de não rezarmos de maneira passiva e automática, mas fazendo nossas as palavras da celebração. Vamos aqui refletir sobre uma das partes da celebração: a oração sobre as oferendas.
Após a preparação do altar pelo sacerdote, auxiliado pelo diácono, o presidente da celebração convida a assembleia a orar, para que Deus aceite o sacrifício oferecido: “Orai, irmãos e irmãs, para que o meu e vosso sacrifício seja aceito por Deus Pai todo-poderoso”. Na tradução anterior, o convite continha: “para que o NOSSO”; agora: “para que o MEU E VOSSO”. Gramaticalmente, o significado é o mesmo, mas liturgicamente, traz um sentido bem diferente e profundo.
O Papa Pio XII, na Encíclica Mediator Dei, afirma que “todos os fiéis tenham por seu principal dever e suma dignidade participar do santo sacrifício eucarístico, não com assistência passiva, negligente e distraída, mas com tal empenho e fervor que os ponha em contato íntimo com o sumo sacerdote” (n.73) e, por isso, “os ritos e as orações do sacrifício eucarístico significam e demonstram
que a oblação da vítima é feita pelos sacerdotes em união com o povo”. Isso ressalta o sacerdócio comum dos fiéis, fruto do Batismo, e o sacerdócio ministerial dos presbíteros, que agem na pessoa de Cristo. Por essa razão, é “meu”, no sentido do sacerdócio ministerial, e “vosso”, no sentido do sacerdócio comum.
Em seguida, a assembleia responde ao convite: “Receba o Senhor por tuas mãos este sacrifício, para a glória do seu nome, para nosso bem e de toda a sua santa Igreja”.
Essa resposta é um diálogo entre o presidente da celebração e a assembleia. Ele é dirigido ao sacerdote, e não a Deus. Não se diz “receba, ó Senhor”, mas que o Senhor receba, pelas mãos do padre, o sacrifício, para a glória do nome de Deus, para o bem de todos e da santa Igreja. Em seguida, se faz a oração sobre as oferendas e prossegue-se com a oração eucarística. O Papa Francisco, na Carta Desiderio Desideravi, nos recorda: “devemos, porém, estar atentos: para que o antídoto da Liturgia seja
eficaz é-nos pedido que em cada dia redescubramos a beleza da verdade da celebração cristã” (n.21).
Redescubramos, pois, a cada dia, a beleza das nossas celebrações!
Pe. Guilherme Franco Octaviano
(Paróquia São Jorge – Região Santo André Leste)
Coordenador da Comissão Diocesana de Liturgia
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