Costumeiramente afirmamos que Jesus nos acolhe. E essa asserção é verdadeira. O Evangelho proposto neste 16º Domingo do Tempo Comum nos convida a uma reflexão a respeito da hospitalidade e do acolhimento que prestamos a Cristo.
Nas figuras de Marta e Maria somos questionados sobre a hierarquia de valores que atribuímos às nossas ações. No cerne da existência cristã está o acolhimento a Deus e a adesão ao seu projeto salvífico-libertador. Toda ação em prol dos irmãos, toda nossa prática pastoral deve ser realizada a partir de uma profunda experiência da escuta da Palavra. Essa atitude inerente à experiência cristã é que dá sentido à nossa ação missionária. O relato da comunidade de Lucas sugere que, para o cristão, acolher o Deus da vida em “sua casa” não pode ser visto como um ativismo desenfreado, mas sim sentar-se aos pés do Redentor, escutar a sua Palavra, aderir à sua proposta de um contínuo e renovado propósito de vida e, assim, construir toda a nossa vida em torno dos seus valores, para só depois nos colocarmos em ação.
A nossa ação deverá ser sempre um ato segundo; isto é, o reflexo da nossa meditação. Este episódio narrado pela comunidade de Lucas nos insere no “caminho de Jerusalém” (9,51–19,27). Nele, Jesus vai revelando aos seus seguidores de todos os tempos o intuito do Reino de Deus, que terá seu ponto alto no madeiro da cruz e na ressurreição. Jesus faz uma parada na casa de duas irmãs, Marta e Maria. As duas mulheres o acolhem, cada qual à sua maneira. Marta estava assoberbada com o serviço doméstico (v. 40); Maria, sua irmã, sentada aos pés do Salvador, escutava sua Palavra (v. 39). Após a insatisfação de uma das irmãs (v. 40), encontramos uma catequese proposta pelo texto sagrado pela qual entendemos que a Palavra de Jesus deve estar acima de qualquer outra situação ou interesse, deve constituir o centro de toda nossa vida. Maria escolheu a parte melhor, afirma Jesus
(v. 42). Entretanto, não se pode ler este episódio como uma oposição entre a vida de oração e o serviço aos irmãos. Jesus não pretende elevar a vida contemplativa em detrimento da vida ativa.
Ele deseja salientar que a escuta da Palavra deve ser o primeiro passo, o ponto de partida para a caminhada de fé. A nossa sociedade está cada vez mais “acelerada”, vivemos correndo de um lado para o outro, envergados pelo cansaço, vencidos pelo estresse. Faz-se necessário estabelecer a prioridade, começando tudo pela escuta da Palavra.
Cercados por essas exigências modernas, devemos nos perguntar: como é possível reservar um espaço do nosso dia para nos sentarmos aos pés de Jesus e escutarmos seu plano de amor para cada um de nós?
Jhonatan Kauê Fernandes dos Santos, Seminarista Diocesano
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