Nosso querido Papa Francisco acabou de instituir o dia 26 de julho, tradicionalmente o dia dos avós, pela data de Santa Ana e São Joaquim, os pais de Maria e avós de Jesus, como o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, propondo para isso uma jornada de reflexão acerca destas importantes figuras no contexto familiar.
E declara também na Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Amoris Laetitia, n. 192: “Muitas vezes são os avós que asseguram a transmissão dos grandes valores aos seus netos, e “muitas pessoas podem constatar que devem precisamente aos avós a sua iniciação à vida cristã”. As suas palavras, as suas carícias ou a simples presença ajudam as crianças a reconhecer que a história não começa com elas, que são herdeiras de um longo caminho e que é necessário respeitar o fundamento que as precede. Quem quebra os laços com a história terá dificuldade em tecer relações estáveis e reconhecer que não é o dono da realidade.”
Quantas verdades neste parágrafo, mas não esgotam a dimensão desta relação avós e netos… Mil palavras não explicam… um milhão delas também não traduzem o zelo dos avós para com seus netos, especialmente no que se refere à transmissão dos valores cristãos, no ensino das primeiras orações pelo próprio exemplo, nos hinos como Mãezinha do Céu e tantas outras cantigas para fazer dormir… para ver olhos inocentes se fechando vencidos pelo cansaço de tantas peraltices em um só dia… Como esquecer a imagem forte das mãos de vovós e vovôs, solenemente, conta a conta, rezando o terço? Como esquecer a vozinha suave e angelical de um neto rezando junto uma Ave Maria, a oração do Santo Anjo ou do próprio Ângelus ao longo do dia? Quantas crianças começaram a ir à Igreja pelas mãos dos avós… missas, terços e demais participações na vida comunitária. Quantos netos aprenderam as narrativas bíblicas, em histórias contadas por seus avós: Jesus, José do Egito, Moisés, Davi, Jonas dentro da baleia etc.
Quantas palavras seriam necessárias para descrever uma cena em que um avô, sentado em um banco de praça ou de um jardim, segurando ternamente um neto no colo, acariciando com o olhar aquela pequena criatura? Quantas palavras para traduzir a alegria de um neto diante da notícia de que a vovó fará bolinho de chuva, arroz doce, pipoca ou uma iguaria própria de quem sabe pegar pelo estômago e pela atenção desmedida… em uma espécie de fascínio que só os avós tem e repassam em pequenas coisas, em pequenos gestos em uma deliciosa relação de cumplicidade… que certamente prolonga os dias de muitos idosos, quando se tratam de avós idosos, porque temos muitos avós jovens também… de pouco mais de trinta anos, quarenta… enfim…. quase que totalmente fora dos conceitos de que todos os avós são velhinhos… velhinhas “costureiras, bordadeiras, tecelãs” em um contexto cada vez mais escasso e raro.
Felizes daqueles que sentiram o abraço de um avô, de uma avó… que conseguiram ser netos, e agora conseguem ser bons avós… Quem tem o privilégio de ser chamado de vovô ou vovó, ganhou um tesouro imensurável dos céus…. Os netos são tesouros recebidos de Deus, mas os avós também o são…. felizes as crianças que tem uma família que as ame e as eduque… que permite que os avós façam parte desta jornada…. muitas vezes, impedida pela distância social e geográfica também. Especialmente nestes tempos de pandemia, pautada por isolamento, saudade, privação, distanciamento social, familiar…
A internet nos coloca em contato, até nos aproxima um pouco, mas não tem abraço quentinho, não tem cheiro de vovó, muito menos cheirinho de netos, nem colo, nem guloseima nenhuma… entramos em contato, mas não é quentinha como as mãos dos avós: é fria. Deixemos nossos celulares de lado… façamos com que os netos os deixem também…. vida real tem tudo do que falamos, mas o virtual, não nos supre na falta de tudo isto.
Que a jornada para o Dia dos Avós e dos Idosos seja uma importante oportunidade de reflexão acerca da boa nova que devemos ser na vida de nossos avós, bem como da memória que devemos fazer aos que depois de terem cumprido sua missão, deixando um legado de amor, já se encontram na Casa do Pai.
Que o Espírito Santo ilumine todos os avós nesta linda missão de serem os transmissores da fé, da vida e da história para seus netos e netas, agora e sempre. Amém.
Memórias de netos:
Vô Luiz, não consigo mensurar ou ter ideia do sentimento da notícia da minha chegada (primeiro neto), porém o carinho e admiração que se construiu no decorrer de nossas vidas, bem resume a nossa ligação: de sangue, de DNA, de sobrenome. Os antigos abriram caminho para os mais novos. Sou grato a estes que vieram antes de nós. Quantas lutas para que pudéssemos um dia aqui estar. Meu avô, meu amigo, face amável, semblante pacífico, voz que acalmava, assovio que alegrava… quantas viagens, passeios pela areia da praia, fogueiras e pescarias. Jamais esquecerei aquele último, forte e longo aperto de mão no leito de uma UTI. Meu anjo no céu… Alan Baldon
Falar de avós… o que representaram para mim? Vou falar de meu avô paterno em especial… Ele representou o rosto mais próximo do concreto do rosto com o olhar de Jesus… sempre que o via imaginava que não seria nada surpresa se quando eu chegasse no céu, Deus tivesse o mesmo olhar dele, o mesmo sorriso, a mesma simplicidade, as mesma maciez das mãos já velhinhas e o mesmo amor de que sinto tanta falta até hoje… sempre digo aos meus filhos: aproveitem seus avós, pois quando eles partirem vocês não imaginam a saudade que sentirão... Aline Baldon Bertoldo
Avós: amor incondicional, puro e verdadeiro. O colo mais cheio de carinho, de ternura e afeto. A casa mais cheia de mimos, guloseimas e sem muitas regras! Um amor tão intenso por pouco tempo na minha concepção. Ficam as saudades e as maravilhosas lembranças. Que sorte daqueles que tem avós ou puderam curti-los por um tempo. Aluete Baldon Blanco
Avós tem cheirinho de bolinho de chuva, mãos quentes, fofinhas e com pintinhas a nos agradar nas tão esperadas tardes de domingo! Avós tem conexão com a infância, com simplicidade, com um amor que acalenta a todo momento. Sabedoria! Bombom para adocicar, chazinho para esquentar! Saudades de tê-los aqui, mas agradecida por ter tido a oportunidade desta inesquecível convivência. Alana Baldon de Assis
Nas férias, quando ia para o sítio de meus avós, havia um ritual em que toda manhã, quando levantava, meu avô já estava sentado na taipa do fogão à lenha com os filhos, tomando café no bico do bule, pois não existiam xícaras. E me chamava para sentar com ele para tomar café no bule também. À noite, meu avó sentado em uma cadeira de balanço, me pegava no colo e contava histórias que ele mesmo inventava. Eu só dormia depois de cinco ou seis histórias… A minha avó, sempre tinha uma surpresa para mim, ora bolinhas de gude ou de borracha, um estilingue novo e muitas guloseimas próprias do interior, como pães caseiros, curau, “crostole” e tantas outra. Quando meu avô ia para a cidade fazer compras, levava-me na garupa do cavalo. Gostava e pedia para ele galopar, mas ele, mesmo dizendo que era perigoso, pedia para eu agarrar em sua barriga, e galopava por alguns metros, uma pequena distância, só para me agradar. Toninho Baldon, 70 anos, pai de 4 filhos, avô de 9 netos… o décimo (na verdade uma menina) está a caminho.
O que nós, Osmarina e Toninho, podemos dizer de ser avós de 9 netos, aguardando a décima: Um amor incondicional por cada um dos netos, nas diferentes idades, mas em um só sentimento ao comerem bolinho de chuva, pipoca, arroz doce e outras delícias próprias para netos, como descascar cana e ir cortando em pequenos pedaços como gostam de saborear quando estão no sítio conosco. Quantas aventuras de que os pais das crianças nem desconfiam… Assim como levamos os filhos para a Igreja, levamos os netos também… e ajudamos a zelar para, na idade certa, recebam os sacramentos próprios de cada fase. Rezamos com eles, e muita história bíblica é contada. Somos questionados pelos mais velhos, especialmente em relação à inversão de valores imposta por um mundo moderno sem Deus. Somos avós carinhosos, mas firmes também no que se refere aos valores cristãos. Sim para o sim; não para o não. Damos nosso melhor, enquanto avós, esperando estar contribuindo para com a boa formação de cada um. Um aprendizado de ambas as partes. Com eles somos revigorados e atualizados sempre, especialmente no que se refere ao uso dos recursos dos celulares, computadores e todo um mundo virtual à disposição de quem sabe apertar o botão certo. Gratidão imensa a Deus por tanta vida em nossa vida.
* Artigo por Osmarina Pazin Baldon
Source: Diocese