Queridos irmãos e irmãs, estamos nos aproximando do Tempo da Quaresma. São quarenta dias em que somos chamados a uma busca pela conversão. Sim, neste tempo, a Igreja nos pede que reflitamos um pouquinho mais sobre nossas atitudes e a melhor forma de corrigirmos nossos erros conosco, com o próximo, com Deus. Não que devamos fazer esse tipo de reflexão apenas nessa época litúrgica, mas esse tempo que nos prepara para viver o mistério pascal de Cristo também nos prepara para o nosso mistério pascal, por isso, é válido neste tempo buscarmos uma transformação total de nossas vidas.
Para nos ajudar, a Igreja propõe exercícios quaresmais, que são, na verdade, motivações que nos ajudam a atingir a plenitude de nossa humanidade e de nossa espiritualidade. Os exercícios são: jejum, esmola e oração. Uma tríade renovadora que nos coloca novamente no centro de nossa existência, que é ser “humanos voltados para Deus”.
O jejum, por exemplo, nos faz perceber quem nós somos, o que nos faz falta, o que devo melhorar em mim. Jejuar é encontrar-se consigo, perceber-se como ser único na obra da criação. Ninguém é igual a ninguém, alegrias e dores são vividas de formas diferentes, mesmo que tanto as alegrias quanto as dores sejam realidades pelas quais todos devamos passar. Cada um encara esses sentimentos de forma única. O jejum nos faz perceber tais sentimentos em nós e nos impele a mudar o que está errado. É importante ressaltar que, quando nos abstemos de algo, seja comida, bebida, ou qualquer outra coisa, a finalidade deve ser sempre a de, diante de uma reflexão madura, encontrar-me com minhas misérias, para entender as misérias da humanidade. Ao deixar de fazer ou comer algo, não devo agir por puro preceito, mas buscando um amadurecimento espiritual.
A esmola, ou caridade, por sua vez, me coloca em contato direto com o próximo. A esmola não deve ser um simples ato filantrópico, mas um gesto de entrega de si ao irmão. A melhor esmola que podemos dar ao outro somos nós mesmos. Lembremos da atitude do “Bom Samaritano”, que se deu àquele homem caído à beira do caminho, quando fora o único a parar e cuidar de suas feridas.
Já a oração nos devolve a intimidade com Deus. Uma intimidade que perdemos cada vez que viramos as costas para ele. Pela oração, criatura reconhece-se criatura e se faz pequena diante de seu Criador, coloca-se como filho (a), reconhecendo Deus como Pai.
Nesta tríade, encontramos a essência do ser humano: reconhecer-se como ser individual, como ser social e como ser espiritual. Estas três coisas nos fazem quem realmente nós somos. Se faltar uma delas, traímos nossa natureza.
Pe. Dayvid da Silva
Pároco