O 1º Encontrão da Pastoral do Povo da Rua da Diocese de Santo André reuniu na manhã de sábado (30/10), representantes de 30 pastorais sociais e iniciativas caritativas que atuam com ações sociais e atividades voltadas às pessoas em situação de rua e em situação de vulnerabilidade social. A atividade também contou com as presenças de diáconos permanentes e aconteceu no Auditório Dom Jorge Marcos de Oliveira do Edifício Santo André Apóstolo (Cúria Diocesana), no Centro de Santo André.
A atividade tem como objetivo a acolhida dos participantes, troca de experiências, apresentação de propostas e planejamento de trabalhos futuros. A programação teve início com o café da manhã, momento musical e oração inicial como preparação para o encontro. A Pastoral do Povo da Rua também surge como uma inspiração de uma Igreja acolhedora e em permanente ação missionária, os principais eixos norteadores do 8º Plano Diocesano de Pastoral. O próximo encontrão será agendado em breve.
A opção preferencial pelos pobres
O bispo diocesano Dom Pedro Carlos Cipollini, que participava de forma online, da 42ª Assembleia das Igrejas Particulares no estado de São Paulo, marcou presença na abertura e disse que a Pastoral do Povo da Rua tem uma missão fundamental de sinalizar a opção preferencial de Jesus pelos pobres, excluídos. “E essa opção tem que ser da Igreja. Só que ela não pode ser somente no papel, ela tem que ser prática. Por isso, um momento como esse é muito importante, tendo pessoas que coordenam, articulam essas ações que já existem e hoje podemos nos fortalecer ainda mais com o Vicariato Episcopal para a Caridade Social”, elucida.
“È o tipo de trabalho pastoral que a pessoa só pode fazer se Deus faz uma chamado para ela, dentro do coração”, enfatiza Dom Pedro, recordando uma história sobre Madre Teresa de Calcutá que, ao encontrar um leproso na rua, estava limpando as suas feridas, quando uma jornalista a encontrou e disse que não faria aquilo nem por U$ 1 milhão de dólares. A madre disse: “Nem eu. Estou fazendo por amor a Jesus Cristo.” Segundo o bispo, quem recebe esse chamado e exerce esse trabalho nas ruas deve enxergar sempre o rosto de Cristo nos irmãos pobres e excluídos.
A transformação de uma vida
Um exemplo concreto de como a Pastoral do Povo da Rua pode contribuir decisivamente na transformação das vidas das pessoas em situação de vulnerabilidade social é o trabalhador na área da construção civil, Madson Carvalho da Cunha, 43 anos, residente em Mauá, e que apresentou um belo testemunho, ao relatar como a entrega de uma marmitex fez a diferença para a retomada da dignidade.
“Minha mãe faleceu em 2010 e daí eu entrei no mundo do álcool e das drogas. Virei o filho pródigo, acabando com as coisas materiais e fui viver nas ruas. Daí certo dia, uma dessas mulheres que faz pastoral de rua foi entregar marmitex e me chamou. Disse se eu queria um estilo de vida melhor. Disse que queria, mas não tinha dinheiro. Ela disse: fica tranquilo e me encaminhou para o GEV (Grupo Esperança Viva), na comunidade terapêutica da Fazenda Esperança. Fiquei um ano lá. Me recuperei, hoje tenho profissão, famiĺia. Tenho uma passagem bíblica que sempre levarei para a minha vida: “Aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24, 13). E eu me encontrei com Jesus. Dei o meu sim e estou bem”, confidencia Madson, que hoje retribui todo o esforço realizado pela sua recuperação ajudando exatamente aqueles que estão em situação de rua.
Apresentação
Em seguida ocorreu a apresentação dos membros de cinco cidades do Grande ABC, participantes de paróquias, movimentos, grupos e pastorais. Depois, o vigário episcopal para a Caridade Social, Pe. Ryan Mathew Holke, promoveu uma breve palestra sobre os objetivos do Vicariato Episcopal para a Caridade Social e a proposta de trabalho da Pastoral do Povo da Rua.
“A gente precisa criar oportunidades para que os nossos irmãos e irmãs de comunidade possam conhecer e fazer a experiência que transforma. O objetivo nosso é de que qualquer pessoa que chegue na igreja sinta-se acolhida na Casa de Deus. E nós precisamos ajudar as nossas comunidades a criar estruturas, a criar consciência, a se perceber, a ouvir, a entender, e vocês estão ajudando a construir isso em nossas comunidades”, enfatiza Pe. Ryan, sobre a organização e divulgação do trabalho da Pastoral do Povo da Rua nas dez regiões pastorais da Diocese de Santo André.
Logo após, os integrantes do Encontrão se dividiram em quatro grupos para responder a três perguntas, cujas respostas seriam apresentadas na plenária com a conclusão dos grupos.
O que te motiva a realizar essa missão com a população de rua?
Representando o grupo 1, o candidato ao diaconado permanente Eduardo Alcântara afirmou que os membros disseram que servir o próximo é um aprendizado e lição de vida. “Acolher e promover a valorização da vida e a sua mudança. Se colocar no lugar do outro, como cristão, independente da religião, e resgatar a dignidade de vida dos irmãos.” “Levar esperança e fazê-los crer mais do que são e tirá-los da condição de serem invisíveis. Ter um olhar sensível e não ser apenas entregador de comida. Promover a escuta e o diálogo. Plantar no coração de outro esse sentimento de ajudar. Doar amor, que vem de forma gratuita, e incentivar os outros a fazerem o mesmo”, cita a representante do grupo 2, Patrícia Lima. “A motivação é o amor de Deus, que enxergamos Cristo em cada ser humano”, disse Andreia Kaiser, representa do grupo 3. “Se colocar no outro, a salvação das almas, ver Jesus nos outros, amor ao próximo, mudar vidas e devolver a dignidade aos irmãos”, afirma Gabriele Lins, do grupo 4
Na sua experiência, quais são os maiores desafios enfrentados pelo povo da rua?
“Serem ouvidos. A falta de esperança, o medo de se reintegrar na sociedade e ser aceito. É fundamental ter profissionais psicólogos para entender porque esse povo está na rua. Muitos não saem das ruas, pois tem dificuldades para conseguir emprego e, portanto, teriam muitos obstáculos para pagar as contas”, relata Eduardo. “As pessoas em situação de rua sofrem violência até mesmo do poder público, dos cidadãos. A falta de conhecimento dos direitos. Restabelecer vínculos sociais e aceitar regras. Precisa de uma força-tarefa para levar as informações dos direitos que cada um tem na sociedade”, disse Patrícia.
“O tratamento com terapeutas, psicólogos, psiquiatras voluntários é essencial para a recuperação das pessoas em situação de rua, pois existem as pessoas que têm dependência química e outras que têm depressão, traumas. Esse atendimento é essencial para essas pessoas superarem os desafios e retomarem a dignidade”, Gisele Capelli. “Ser invisível, a libertação do vício, a relação com a família, a falta de capacitação profissional para reinserção social e no mercado de trabalho”, comenta Gabriele.
O que esperamos dos nossos grupos? E de nós mesmos?
“A união entre as pastorais, promovendo a Pastoral de Conjunto, como afirma o Documento de Aparecida: comunidade de comunidades, uma igreja sinodal. Mapeamento das ONGs, asilos, e demais trabalhos caritativos e de acolhida. Comunicação aberta entre os membros. perseverar, trabalhar com amor e dedicação com respeito ao próximo”, salienta Eduardo. “Nosso olhar como irmãos, sensibilidade, libertar-se do julgamento e ter comprometimento. Esperamos que dentro das comunidades e paróquias apoiem esse trabalho. Nossa função é ser acolhedor”, aponta Patrícia. “Resgatar a vida e dignidade. Esse trabalho é um chamado do Espírito Santo, é preciso ter essa experiência de ver Jesus em nosso irmão”, conclui Gisele. “Mudar as pessoas, colaboração, integração e parceria, ou seja, o vicariato. Ajudar também na assistência social e direitos. Fazer a diferença na vida das pessoas, crescimento espiritual e anunciar os trabalhos pastorais nas missas e nas paróquias”, sintetiza Gabriele.
Avaliação final
Por fim, Pe. Ryan e Jaqueline informaram sobre a programação do V Dia Mundial dos Pobres nas regiões pastorais. “Todo mundo precisa ter consciência para passar essa experiência que vivemos aqui, nessa dinâmica nos grupos, sobre a motivação e o que nós esperamos da Pastoral do Povo da Rua como Pastoral de Conjunto. Uma das ideias ainda para esse ano de 2021 é que a gente comece a se reunir com os grupos, por cidade, nas regiões pastorais, fazer o mapeamento e distribuir responsabilidades. Partilhar aqui e construir lá fora”, projeta Jaqueline.
Para participar da Pastoral do Povo da Rua, basta acessar o link e preencher o formulário
Mais informações pelo telefone: (11) 4469-2077 ou pelo WhatsApp: (11) 99981-1233 (Centro Diocesano de Pastoral).
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Source: Diocese