O primeiro Sínodo Diocesano (2016-2017) mobilizou toda a Diocese de Santo André num processo de escuta e diálogo para identificar as prioridades visando uma exitosa ação pastoral evangelizadora no quinquênio (2018-2023): “Ser uma Igreja que fortaleça a Cultura e a Espiritualidade do Acolhimento em permanente Ação Missionária”. A participação efetiva de todos e todas foi fundamental para que a implementação do 8º Plano Diocesano de Pastoral, por meio de seus oito itinerários, se tornasse uma referência de atuação, tanto na teoria com formações, como na prática com ações.
No contexto da pandemia, a acolhida e a missão são essenciais em todos os setores de nossa sociedade. E uma bela e exemplar iniciativa da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) lançada neste ano de 2021 é o Pode Falar, canal de ajuda virtual em saúde mental e bem-estar voltado para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos.
Para apresentar e divulgar esse projeto, a reportagem da Diocese de Santo André conversou com a oficial do Programa de Cidadania dos Adolescentes do UNICEF no Brasil, Joana Fontoura. Confira:
1 – Como surgiu a ideia e a inspiração para a criação desse projeto?
O Pode Falar foi lançado em fevereiro de 2021, num esforço coletivo da UNICEF e parceiros como a Asec (Associação pela Saúde Emocional das Crianças), o Instituto Vita Alere, o CVV (Centro de Valorização da Vida), o Instituto Syntese, o Núcleo de Cuidado Humano da Universidade Federal Rural de Pernambuco, a SaferNet e diversos especialistas, assim como adolescentes que também fizeram o teste no lançamento, na época da criação desse canal.
A ideia surgiu da reivindicação dos próprios adolescentes com os quais a UNICEF trabalha, no âmbito do seu mandato, para tratar mais especificamente o tema da saúde mental. Essa demanda foi fortalecida pelo impacto da pandemia e do isolamento social. Pela complexidade e vastidão do tema, foi definido, então, com parceiros especialistas que a ação do UNICEF nessa área seria a criação desse espaço virtual que desempenharia as funções de conteúdo e de ser uma porta de entrada de adolescentes e jovens que buscam informações sobre saúde mental e como ter autocuidado, compreender melhor essa demanda e a partir disso, também, poder direcionar e casar com as políticas públicas de atendimento em saúde mental nos seus próprios municípios e fazendo essa ponte com a rede pública de atendimento psicossocial.
2 – Quais os principais objetivos do canal Pode Falar?
Há alguns anos, a UNICEF vem estudando casos de violência autoprovocada e óbitos por suicídio envolvendo jovens de 13 a 24 anos. No Brasil, a gente observa um aumento de dados da violência autoprovocada. Para a UNICEF é muito importante as formas de promoção da saúde mental e prevenção desse cenário de ação suicida, de automutilação ou de tentativa de suicídio.
E com o contexto da pandemia agravou a questão da ansiedade e casos de depressão em adolescentes e jovens. Daí a importância de a gente trazer um canal de ajuda virtual em saúde mental e bem-estar com o objetivo de envolver diferentes parceiros e atores da sociedade, entendendo que a prevenção de suícidio e a promoção da saúde mental é uma tarefa de uma rede e que a gente continua tendo várias conversas com coordenações e com profissionais para trazer mais perto, a fim de que a gente garanta um atendimento maior aos adolescentes e jovens em sofrimento mental.
3 – Como funciona o atendimento no canal Pode Falar?
O Pode Falar é um canal em franca expansão e desenvolvimento. Estamos aprimorando tanto a parte tecnológica, porque é uma inovação utilizarmos inteligência artificial, usar algumas ferramentas de contato de forma anônima, com os adolescentes e jovens de forma protegida. Buscamos assegurar essa proteção dos dados e fazer também, ao mesmo tempo, uma incidência política em relação às melhorias no serviço público de atendimento em saúde mental.
Esse é o grande papel do canal: a pandemia trouxe uma complexidade maior, mas ao mesmo tempo, pelo fato de ser virtual, a gente consegue ter um serviço nacional que podemos atender diferentes localidades do Brasil.
O canal funciona por meio de um robô. É um chatbot 24h, onde os adolescentes e jovens podem informar o que eles estão necessitando naquele momento, de forma anônima, passar por uma triagem automatizada, o uso da inteligência artificial para que a resposta recebida seja de acordo também com a complexidade de sua demanda, e fazendo essa indicação dos materiais de apoio, das informações e dos serviços. Já o atendimento de escuta individual com atendentes funciona em regime de plantão (ver horários ao final da entrevista).
4 – E quais os eixos trabalhados nesta iniciativa?
O canal é dividido em três seções, que são também eixos de atuação: Quero me Cuidar, uma área de acesso aos materiais sobre saúde mental e bem-estar para adolescentes, incluindo manual de autocuidado, vídeos sobre saúde mental para adolescentes, lives com especialistas, podcast e autoteste de ansiedade. É mais direcionado para entender um pouco mais sobre o que é saúde mental. O segundo eixo Quero me Inspirar, com dicas sobre como superar as situações difíceis, com possibilidade de enviar um depoimento de forma anônima, exclusivamente a partir de texto que a UNICEF torna público no canal. Esse eixo é para empoderar e instrumentalizar outros jovens a formarem rede de apoio de escuta empática entre pares, bem como um espaço de acolhimento para que outros adolescentes e jovens possam ouvir depoimentos em situações com as quais eles se identifiquem. O terceiro eixo é o Quero Falar, um serviço de atendimento individual oferecido por organizações parceiras com experiência na escuta empática e na prevenção do suicídio. Importante frisar que é uma escuta acolhedora com atendente via chat, a fim de aliviar o momento de sofrimento agudo e, na medida da disponibilidade de serviços e de portas e saídas na localidade, indicar também o que fazer depois daquele atendimento.
5 – Quais os assuntos mais abordados pelos jovens durante esse processo de escuta e diálogo?
Os assuntos mais abordados são o aumento da ansiedade, com relação à insegurança no futuro, por conta do isolamento e das mudanças ocorridas no cotidiano, de ir ou não ir à escola, ter acesso aos amigos e namorados/ namoradas. Tem todo esse luto vivenciado, seja pelas mortes ocorridas no contexto da pandemia, seja pelas vivências desfeitas no período do isolamento. Tem muito relato de medo, de conflitos dentro da família, dificuldades de diálogo dentro de casa. E com a vida voltada mais para o seio familiar, os conflitos são evidenciados. Além disso, tem a exaustão mental de não poder viver a vida social de antes, e também o cansaço provocado pelas horas online, a dedicação aos estudos escolares e para quem não tem acesso a escola, esse é um grande fator de risco, já que tem todo um tema ligado à internet, o seu excessivo uso e o cyberbullying.
6 – Quantas pessoas são atendidas diariamente/ mensalmente?
Desde o lançamento em fevereiro, registramos 22.837 pessoas acessando o canal e varia muito a quantidade de atendimentos por dia. Até porque nós estamos num processo de aumentar as parcerias para que tenhamos um maior número de atendentes possível. A média é de 4 mil acessos por mês. Temos uma média de 200 atendimentos por dia, mas varia muito (em alguns 400, em outros 100). Como temos um horário definido de atendimento, queremos apoiar e atender nos horários mais importantes para os adolescentes ter espaço e privacidade para acessar o canal. Estamos realizando um estudo de viabilidade de qual o melhor horário para concentrar uma maior oferta de atendentes durante o dia.
7 – Muito obrigado pela entrevista, Joana, Por favor, informe como as pessoas interessadas podem participar do Pode Falar.
Os atendimentos individualizados por atendentes no chat são realizados nos seguintes horários:
Segunda: 8h às 9h; 10h às 12h, e 14h às 18h
Terça: 10h às 12h; 14h às 20h
Quarta: 8h às 9h; 14h às 20h
Quinta: 8h às 12h; 14h à 16h, 18h às 20h
Sexta: 8h às 11h; 14h às 20h
O robô (inteligência artificial) funciona 24h por dia; para quem quiser participar e tiver interesse em divulgar para adolescentes e jovens entre 13 e 24 anos é só acessar o site: podefalar.org.br ou mande WhatsApp para (61) 9660-8843.
Source: Diocese