Pobres sempre tereis entre vós, disse Jesus (cf. Mt 26,11). Ele sabe que o egoísmo dura enquanto existir o ser humano. Ele, no entanto, ensinou o caminho para sair do egoísmo que mata as pessoas por dentro. Os ricos, tem a tendência de substituir Deus pelas riquezas, e colocar nelas a segurança. Um mal negócio! As riquezas duram só até a morte, Deus vai além.
O caminho ensinado por Jesus é partilha estrutural, a nível pessoal e social. Isto se faz promovendo políticas públicas na sociedade, que ajudem a eliminar a miséria, a fome e o desespero dos que são marginalizados. A concentração de renda no país é um monumento a injustiça social geradora de miséria.
Tivemos neste último domingo, dia 14/11, a 5a edição do Dia Mundial dos Pobres, uma iniciativa do Papa Francisco para a Igreja do mundo todo. A proposta parte das palavras de Jesus, quando aparece como juiz universal: “Apartai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno preparado para o Diabo e seus anjos. Pois tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, era estrangeiro e não me acolhestes; estava nu e não me vestistes, doente e no cárcere e não me visitastes. Então eles perguntarão: Senhor, quando te vimos faminto ou sedento, estrangeiro, nu, enfermo ou no cárcere, e não te assistimos? E o juiz responderá: toda vez que não fizestes isso a um desses pobres, a mim o fizestes” (Mt 25, 41-45).
Com a participação de muitos voluntários generosos, profissionais de várias áreas inclusive advogados, psicólogos, cabeleireiros etc; foi possível acolher e dar um dia de dignidade, comida e carinho, a centenas de moradores de rua. Isto não resolve o problema da pobreza, mas sinaliza o que se deve fazer por eles. Foram muitas as dificuldades para articular e preparar este dia, inclusive má vontade de quem deveria ajudar em primeiro lugar. No entanto, a grande generosidade, senso de partilha e cidadania dos católicos e outras pessoas de boa vontade, fizeram a diferença. Foi bom, foi bonito, gratificante.
Por que os católicos se preocupam com os pobres? Porque acreditam que o dinheiro não pode valer mais que as pessoas, defendem uma economia ética e sustentável, como propõe o economista Joan A. Melé, e outros (cf. Estado SP 15/11/21 p.b11). Existem, porém, cristãos de outras denominações adeptos da “teologia da prosperidade”. Eles acreditam que, quem é rico já está predestinado à salvação. A pobreza é sinal de maldição. Para estes os pobres são descartáveis e não são os preferidos de Jesus como está no Evangelho.
Existem entre nós muitas propostas de auxílio para combater a pobreza, mas infelizmente, acabam se tornando plataforma eleitoral. Precisamos um pacto social capaz de mudar nossa cultura, para termos uma sociedade inclusiva onde caibam todos na distribuição dos bens.
E mesmo que os pobres continuem existindo, não precisarão viver como animais ou morrer pelas ruas. Uma justa distribuição de renda dará dignidade a todos. Todos ganharemos com um mundo mais justo e fraterno, sonhado por Deus.
Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André
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