“Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro”. (Eclo 6,14)
No Livro do Eclesiástico, encontramos esse belo e verdadeiro versículo. Ao encontrar um amigo, encontramos, de fato, um tesouro.
Infelizmente, o que vemos no mundo de hoje são pessoas pobres de verdadeiras amizades. Os relacionamentos passaram a ser superficiais, vazios e até mesmo frios.
Será que paramos para pensar em quem realmente podemos confiar ou quem será aquele que estará o tempo todo ao nosso lado?
São poucos os que têm alguém que possa ser chamado de um amigo verdadeiro.
Mas o que teria mudado ao longo dos anos? O que deixou de acontecer para que as grandes amizades passassem a ser cada vez mais raras?
Se a tecnologia, a internet e as redes sociais trouxeram muitos benefícios para o homem, trouxeram também consequências negativas e uma delas foi o afastamento das pessoas.
Tudo se tornou veloz e prático demais. Localizamos mais rapidamente alguém com quem queremos falar, mas falamos pouco. Uma ligação é substituída por uma mensagem escrita ou de áudio pelo whatsapp.
Queremos ter em nossas redes sociais um grande número de seguidores, sem nos preocuparmos em nos aproximar de quem está nos seguindo. O importante passou a ser quantas curtidas ou quantas visualizações recebemos em nossas postagens. Nossa preocupação talvez não tenha sido com a qualidade do conteúdo postado, mas em saber qual alcance esse conteúdo poderá ter.
As pessoas reúnem-se em festas, baladas (ao menos reuniam-se antes da pandemia) e mais uma vez a quantidade tem maior valor do que a qualidade da relação de amizade.
Não que haja qualquer problema em sermos populares em redes sociais e nos divertirmos com pessoas queridas. Mas precisamos estar atentos se nesse mecanismo não estamos deixando de ter uma conversa profunda com um amigo. Podemos encontrar nesse amigo um apoio e sermos também para ele a pessoa com quem as dores e alegrias poderão ser divididas.
A simples troca de mensagens não é o que poderia se chamar de um verdadeiro diálogo.
Diálogo é algo mais profundo. Diálogo é falar, ser escutado e também saber escutar o outro.
O diálogo em uma amizade carrega em si a preocupação e interesse verdadeiro na resposta quando perguntamos ao outro: “tudo bem com você?”.
O diálogo nos edifica quando oferecemos nossa melhor palavra a quem nos ouve e recebemos dela esse mesmo tratamento.
Podemos ter grandes companheiros de jornada, colegas de estudo, de trabalho, de comunidade. E, entre eles, podemos encontrar nossos grandes e verdadeiros amigos. Uma coisa não exclui a outra – ao contrário, acrescenta.
Mas não podemos nos esquecer do nosso maior Amigo: Jesus.
“Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai”. (Jo 15,15)
Ao deixar Seu mandamento de amor, Jesus disse essas palavras a seus apóstolos.
Jesus quer ser nosso amigo, nos ouvir, saber o que se passa em nossos corações. Jesus quer que tenhamos nEle aquele em quem confiar, aquele que saberemos que jamais nos desapontará.
Podemos falar tudo em nossas orações, em uma conversa franca.
Ainda que Ele saiba exatamente tudo o que se passa conosco, que tenhamos o hábito de contar nossas coisas para Ele, como se nada soubesse.
E Ele responderá. Basta sabermos ouvir.
Da mesma forma que devemos ser bons ouvintes a nossos amigos, que saibamos ouvir Jesus nos sinais em nosso dia a dia, na Palavra de Deus que lemos na Bíblia, nas mensagens que o sacerdote diz em suas homilias, iluminado pelo Espírito Santo.
Que tenhamos grandes amigos e sinceras conversas com Jesus até que, vendo-O face a face, possamos um dia agradecê-Lo por nossos diálogos e por termos sido ricos nas verdadeiras amizades.
* Artigo de autoria de Maria Cecília Giordan Cavalcanti Sarinho
Source: Diocese