No segundo dia de trabalho do Sínodo dos Bispos, que teve início na sexta-feira, 6 de outubro, os participantes se reuniram logo pela manhã na Sala Paulo VI. As mesas redondas, compostas por aproximadamente 12 pessoas cada, congregaram cardeais, bispos, leigos e religiosos, sob a orientação de um monitor dedicado a resolver eventuais dificuldades e problemas que surgissem durante as deliberações.
Nesse contexto, cada grupo designou um secretário ou secretária e um relator ou relatora para registrar as discussões. Durante a manhã, esses grupos se empenharam intensamente em seus debates, prosseguindo até a metade do período matinal. Posteriormente, cada relator apresentou as reflexões e contribuições elaboradas pelo seu grupo até o horário das 11h.
Após a pausa para o almoço, as atividades recomeçaram no mesmo formato. À tarde, os participantes retomaram suas posições nas mesas de discussão, continuando a ouvir os relatórios apresentados. Em seguida, abriram-se oportunidades para aqueles que desejavam fazer exposições em nome pessoal, permitindo que as vozes individuais fossem ouvidas.
Foi nesse momento que nosso bispo diocesano, Dom Pedro Carlos Cipollini se inscreveu e fez uma fala sobre “Passar de uma Igreja autorreferencial para uma Igreja servidora do Reino de Deus”:
“Em uma época na qual declinou o projeto de “cristandade” é preciso voltar ao essencial e rever o exercício da missão. Às vezes há muita Igreja e pouco Reino! O objetivo é o Reino, os demais são meios para se implantar o Reino. O Reino de Deus é a meta. Por muito tempo se identificou a Igreja com o Reino de Deus e assim ela se tornou absoluta, cedendo ao triunfalismo confundindo-se com o Reino. São Paulo VI escreveu: “Só o Reino, por conseguinte é absoluto, e faz com que se torne relativo tudo o mais que não se identifica com ele” (S. Paulo VI in Evangelii Nuntiandi 8).
A referência deve ser o Reino e não a Igreja em primeiro lugar. Ela é testemunha, anunciadora e portanto: sua servidora. Nela o Reino já está presente em germe. E povo de Deus aqui não é noção sociológica, mas teológica: Não só o povo pertence a Deus, mas Deus quis ter um povo: “Eles serão o seu povo e Ele será o Deus que está com eles” (Ap 21,3).
O Novo Testamento inteiro está explícito, ou implicitamente construído sobre o tema do povo de Deus. É esta noção de Igreja Servidora do Reino como Povo de Deus Peregrino, povo Messiânico, que sustenta a sinodalidade.
Vivenciar a eclesiologia do povo de Deus exige a humildade de passar de uma cristologia do Pantocrator para uma cristologia do Servo Sofredor de Javé. “Muito tempo antes de Paulo, foi no capítulo do Servo Sofredor (Is 53) que a comunidade das origens foi buscar a chave para penetrar o mistério profundo do Filho de Deus padecendo a morte ignominiosa de cruz” (J. Jeremias, O Povo de Deus, Paulus, S. Paulo, 2002, 29).
De fato, entre as estruturas do mal, irrompe o Reino de Deus, sua metodologia não pode ser a do reino deste mundo. Jesus propõe a metodologia da bondade e do amor, da kénose, vencer o mal fazendo o bem. Assim, quem constrói o Reino e a comunidade é o Servo Sofredor, Jesus: “Pus nele meu espírito, ele levará o direito aos povos” (Is 42,1-2).
Contra o Deus do messianismo popular dos zelotas Jesus opõe o Servo Sofredor. Contra o Deus dos Escribas e fariseus do templo, o Deus da misericórdia. É este caminho que a Igreja deve percorrer como o percorreu seu Senhor e Mestre (cf. LG 8).
O descentramento da Igreja, fará com que a Igreja seja capaz de pensar na humanidade toda, mais que em si mesma e no seu poder. Fará também que ela não ceda à tentação de tomar o lugar de Cristo, seu Senhor, mas assim como ele fez, seja servidora da humanidade. Uma Igreja misericordiosa e em saída.
Só o Espírito Santo faz com que a Igreja compreenda o que humanamente é incompreensível: a sabedoria da cruz. Cruz que é a bandeira da Igreja.” O Papa, que estava presente durante todo o evento, ocupou uma mesa posicionada ligeiramente acima das demais, para ter uma visão completa da plenária da Assembleia. Em sua fala, o Papa destacou a importância de formar os futuros padres para a sinodalidade, reforçando o tema central do Sínodo.
As discussões continuaram com intervenções individuais e momentos de silêncio e oração, com cada fala limitada a quatro minutos. O dia foi marcado por contribuições significativas de todos os presentes, com o ambiente festivo e organizado do salão de audiências do Papa, adaptado para a ocasião, proporcionando uma atmosfera propícia ao diálogo e à colaboração.
A organização contou com cada participante tendo à disposição um notebook na sua frente e microfones para se fazer ouvir. Monitores permitiram que os presentes nas mesas acompanhassem de perto quem estava falando, tornando o processo mais dinâmico e interativo.
Dom Pedro nos contou sobre a relação do que está acontecendo no Vaticano e a nossa diocese:
“Muito do que se fala apareceu no nosso primeiro sínodo diocesano, realmente foi uma bênção de Deus a nossa Igreja já estar nesse clima e não podemos perder. Devemos rezar, pedir a Deus para que possamos dar continuidade, não só às decisões, consequências, mas esse espírito sinodal que a nossa Igreja já conseguiu até agora, a partir do seu sínodo.”
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