O bispo da Diocese de Santo André e presidente da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Pedro Carlos Cipollini, visitou na tarde de terça-feira (03/08), a sede da EcoTV, em Santo André, para participar do Eco Entrevista, programa da TV comunitária da região do Grande ABC. O bate-papo com o jornalista Fábio Bézza foi ao ar na noite de quarta-feira (04/08), no canal 8 da Vivo e 9 da Claro/Net.
Assista o programa, na íntegra:
Durante meia hora de programa, Dom Pedro recordou a vocação para padre, a trajetória de vida e os estudos na Itália, fez um balanço sobre os 67 anos de história da diocese, falou sobre os desafios da Igreja nos tempos atuais, a união dos municípios e a necessidade de políticas públicas que priorizem a inclusão social e avaliou o pontificado do Papa Francisco.
Confira alguns destaques do programa:
Vocação ao sacerdócio
“Minha lembrança é que eu sempre quis ser padre. Sou nascido na cidade de Caconde, interior de São Paulo, em 1952. Minha família frequentava a igreja. Fui batizado, fui crismado e sentia esse desejo de ser padre. Nós éramos quatro irmãos e três irmãs e eu só tive vontade de ser padre naquele momento que eu era menino. Depois, mais para frente, um outro irmão também foi ser padre (Luiz Antônio Cipollini, atualmente bispo da Diocese de Marília, no estado de SP). Então, essa vontade de ser padre surgiu da fé e também do desejo de seguir Jesus Cristo e ajudar as outras pessoas.”
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Início da diocese
“A Diocese começou na década de 50, quando chegavam migrantes e imigrantes de todos os lugares, porque o governo tinha escolhido o Grande ABC para ser a sede das montadoras. Era perto do Porto de Santos, perto de São Paulo, um mercado promissor, o que exigiu uma grande demanda de mão de obra. A população cresceu muito. Quando foi criada a diocese, todo o território não chegava a 300 mil habitantes. Hoje tem 2, 8 milhões de habitantes. Então, a diocese surgiu numa grande explosão demográfica e no processo de conurbação do Grande ABC. E a demanda religiosa era muito grande, porque muita gente que veio morar aqui, veio do Nordeste, de Minas (Gerais), de outros lugares com a sua religiosidade de Minas de outros lugares. Então foi uma igreja que também teve que acudir às necessidades do povo.”
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Evangelização e o social
“A Igreja esteve muito próxima dos operários, porque eles faziam greves, cortavam-se os salários, a pressão da ditadura militar era muito grande e a Igreja acolhia as famílias e os grevistas, fazendo muita coleta de alimentos, cestas básicas. De forma que a Igreja Católica no Grande ABC tem uma marca de evangelização que leva em conta o social. A Igreja existe para pregar o evangelho, anunciar Jesus Cristo, celebrar a missa, os sacramentos, batizados, mas também essa evangelização não pode esquecer que o ser humano é de carne e osso. Ele precisa ter dignidade.”
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Políticas públicas e união dos municípios
“O Grande ABC passou por uma grande transformação. Hoje, a região não é mais predominantemente industrial, e sim, mais os serviços. E as políticas públicas exigem uma organização em conjunto. Uma coisa boa que eu encontrei quando cheguei no Grande ABC há seis anos, é o Consórcio Intermunicipal. Dei aula durante 25 anos na Universidade Católica de Campinas para formar padres e uma das disciplinas que eu lecionei se chamava Pastoral Urbana. E os urbanistas que eu tive que estudar para poder lecionar essa disciplina, como a Igreja deve se articular numa cidade, eles são de opinião que sem uma união entre os municípios próximos é difícil solucionar os problemas de cada um separado, principalmente no Grande ABC onde o processo de conurbação é total.”
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Pontificado do Papa Francisco
“Admiro muito o Papa Francisco e penso sempre que Deus manda a pessoa certa, no momento certo para dirigir a sua Igreja. Nessa nossa realidade, ele é um papa que consegue exercer não só uma liderança, mas uma autoridade. Porque a liderança dependendo da circunstância e do organismo que você dirige é quase colocada como natural. Mas ser uma autoridade é diferente. Autoridade vem do latim ‘auctoritatis’, ou seja, aquele que faz vir para cima, para o alto, que faz crescer. Então, vejo o Papa Francisco como uma autoridade que diz uma palavra muito humana, a respeito dos vários problemas que enfrentamos. Por exemplo, a sua encíclica Evangelii Gaudium sobre a evangelização nesse mundo novo conflitante, depois a encíclica sobre a ecologia Laudato Si’, de modo que ele aponta que a maior crise que enfrentamos é a crise antropológica.”
Source: Diocese