Estamos na Quaresma, que é um tempo especial. Preparamo-nos para celebrar a Páscoa de Jesus Cristo. A Páscoa, palavra que quer dizer passagem. Na Bíblia significa a passagem do povo hebreu da escravidão para liberdade. Para comemorar foi instituída uma festa. Foi justamente nos dias da celebração desta festa que Jesus foi morto na cruz, sepultado e ressuscitou, aparecendo vivo aos apóstolos, conforme os relatos dos Evangelhos.
Assim, iniciou-se a comemoração da Páscoa cristã. Nela celebramos a passagem de Cristo pela morte. Mas ele vence a morte! A morte o devora, mas de dentro dela ele a mata: “Quem crer em mim não morrerá jamais” (Jo 11, 26). Ao professarmos nossa fé em Jesus Cristo e seguirmos seus ensinamentos, com Ele morreremos, mas também venceremos, ressuscitando para uma vida que não tem fim; a vida eterna.
Nesse tempo, somos convidados pela Palavra de Deus a rezar mais. Tem um hino que sintetiza uma bela e poética oração os mistérios que celebramos na semana santa.
“O Cristo, sol de Justiça, brilhou nas trevas da mente. Com força e luz reparai a criação novamente”. Pedimos a Cristo que ilumine nossas trevas, tanto pessoais como sociais, a fim de que a criação decaída seja restaurada. “Dai-nos no tempo aceitável um coração penitente, que se converta e acolha o vosso amor paciente”. Peçamos a Deus, para o qual nada é impossível, que mude nosso coração. O início de todo o bem e mudança, começa com a mudança do coração, de nosso interior. É necessário mudar nossa escala de valores, e isto é exigente, é uma penitência!
“A penitência transforme tudo que em nós há de mal. É bem maior que o pecado o vosso dom, graça sem igual”. Diante de todo o mal e absurdo que vivemos no dia a dia, sabemos que a força do amor de Deus é maior que o pecado. Pecado que nos pesa e arrasta para a zona da morte. Tanto a morte interior, o sem sentido da vida pessoal, como a morte que nos rodeia, gritando através da violência e do desespero. Tudo está perdido? Quem poderá nos salvar?
Cristo nos salva. Ele é maior que qualquer maldade, ele vence o mal, na sua aparente impotência, “diante dele se dobram todos os joelhos, no céu, na terra e no inferno”(Fp 2,10). O coração de Jesus crucificado é fonte de amor e de perdão, por eles Jesus Cristo renova a face da terra misteriosamente, apesar de parecer que “está tudo do mesmo jeito”. Nós cantamos porém: “Um dia vem, vosso dia, e tudo então refloresce. Nós, renascidos na graça, exultaremos em prece, um canto novo cantamos.”
Aí está o que celebramos na Páscoa, como escreveu o poeta: “está escuro, mas eu canto” (Thiago de Melo). Não só a esperança é a última que morre, mas nós cremos: “a esperança não decepciona” (Rm 5,5). No subterrâneo da linha do tempo Deus vence. O mal faz barulho e provoca sofrimento (que Jesus provou), mas o bem vence. É a vitória da fé que vence o mundo. Mundo conduzido para um final feliz. Agora, parece que tudo está confuso e destroçado, mas é o canteiro de obras no qual Deus, com a ajuda dos que tem fé nele, está construindo a Jerusalém celeste e luminosa, com os escombros e tijolos da Babilônia do pecado.
Ouçamos o apelo de Deus e ajudemos nesta “construção”, é nela que habitaremos para sempre. “Vi então um novo céu e uma nova terra… vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, descendo do céu, junto de Deus… então houve uma voz forte que dizia: Esta é a morada de Deus com os homens. Ele vai morar junto deles” (Ap 21, 1-3).
Nada mais verdadeiro do que o que está escrito no Livro dos Provérbios, na sabedoria bíblica e ancestral: “O homem bom faz o bem a si mesmo, e o homem cruel destrói a si próprio” (Pr 11,17).
Vale a pena ser bom! É a mensagem Pascal.
Feliz Páscoa!
* Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André
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