MOSTEIRO DE SÃO BENTO EM SÃO PAULO
Missa do Sábado 4/9/2021
Maria, a mulher da esperança
Vamos, olhar um pouco a figura de Maria, como mãe da esperança. A vida toda de Maria foi uma longa espera. O anjo lhe prometeu tantas coisas na anunciação. Mas, durante toda a sua vida, ela viu cumprir-se bem pouco do que lhe foi prometido.
Contudo, ela permaneceu firme na fé e na esperança. Por isso, Maria é um exemplo para nós. Maria não é o centro de nossa vida de fé, o centro é Jesus, mas Maria faz parte deste centro. “Em Maria, tudo se refere a Cristo e tudo depende dele” (Paulo VI in Marialis Culto n. 25).
Os bispos da América latina ensinam: “Deus se fez carne por meio de Maria, começou a fazer parte de um povo, constituiu o centro da história. Maria é o ponto de união entre o céu e a terra. Sem Maria, desencarna-se o Evangelho, desfigura-se e transforma-se em ideologia, em racionalismo espiritualista” (Doc. Puebla n. 301).
A tradição comum das Igrejas protestantes retém como marginal a figura de Maria, como não-digna de veneração. Mas para nós, católicos, Maria é especial e seu papel na História da Salvação é único. O Vaticano II resgata uma devoção autêntica a Maria, situando-a no mistério da Igreja. Maria é, em primeiro lugar, modelo de discipulado, ela percorreu como peregrina todas as etapas da fé.
Maria é exemplo de seguimento de Jesus. Ela nos leva a nos interrogar continuamente: Como escuto a Palavra? Como digo meu sim a Deus? Como estou disponível a Ele? Como carrego Jesus em minha vida? Como deixo que em mim Ele cresça?
Maria é para mim e para a Igreja a mãe, entregue a nós por Jesus morrendo na Cruz. Maria, mãe de Cristo, que é cabeça da Igreja, é também mãe dos cristãos que são o corpo da Igreja. O teólogo Hurs von Balthasar fala de um “princípio mariano” da Igreja.
O sim de Maria foi o sim da humanidade à obra da redenção, fazendo a passagem da antiga aliança (espera) para a nova aliança (esperança). Maria foi toda receptividade e disponibilidade à Palavra, a primeira ouvinte, o primeiro membro da Igreja ao qual toda a Igreja deve imitar.
Cristo se submete totalmente à vontade do Pai e Maria se submete totalmente à inspiração do Espírito Santo e ao serviço de Cristo Jesus; ela é figura da humanidade, é a humanidade que acolhe a salvação. Por isso, podemos afirmar que: “A Virgem Maria é a imagem esplêndida da conformação ao projeto trinitário que se cumpre em Cristo” (Doc. Aparecida n. 141).
Carregando o andor de Maria, o povo carrega sua esperança de chegar aonde ela já chegou, isto é, gozar a liberdade perfeita dos filhos de Deus. Em Maria, o povo vê a realização de sua esperança: o resgate dos excluídos desta terra, a certeza da presença de Deus no humano (santidade).
A Bíblia nos lega uma imagem de Maria toda de Deus e toda do povo. São dois retratos que nos dá a Escritura:
1) Maria toda de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A Palavra de Deus tomou conta da vida de Maria do começo ao fim. Desde sua concepção até sua morte (Imaculada Conceição e Assunção).
2) Maria toda dos outros. A entrada da Palavra na vida de Maria conduziu-a a servir o próximo: visita Isabel, ajuda nas bodas de Caná. Sempre apoiou Jesus, mesmo sofrendo críticas dos parentes, foi abandonada pelos apóstolos aos pés da cruz, mas ela não os abandonou, reza com eles no Cenáculo (Mãe de Deus e Virgindade).
Maria não é somente sinal de salvação na história (Ap 12,1), ela foi agente de salvação na história, pois passando por ela na encarnação, agiram a Palavra Encarnada e o Espírito do Senhor. Identificada com a Palavra, foi a perfeita discípula, consagrada pelo Espírito Santo.
Ela não só foi sinal ou instrumento da salvação, mas como diz Santo Irineu: “foi causa de salvação”. Concebendo, levando em seu seio, dando à luz e educando Jesus, Maria foi quem introduziu na História a semente da salvação definitiva, Jesus Cristo, portador e realizador da salvação integral. Ela é o lugar onde o Verbo se fez carne. Como em Maria, em nossa vida o Verbo deve se fazer carne através de nossa consagração total e absoluta a Deus.
A liturgia é o grande poema celebrativo, sinal da esperança histórica da Igreja. Na liturgia se rememoram e revivem as maravilhas de Deus. Maria é uma dessas maravilhas. Nenhum cristão realmente devoto de Maria se perde nos descaminhos da vida: “Servus Martiae nunquan peribet”.
Dom Pedro Carlos Cipollini
Source: Diocese