MISSA CRISMAL – 28/03/2024 – Catedral Nossa Senhora do Carmo
Homilia: Is 61, 1-9; Ap 1,5-8; Ev. Lc 4,16-21
Dom Pedro Carlos Cipollini
Nesta Santa Missa Crismal bendizemos a Deus porque nos consola em nossas aflições com o óleo da alegria: a unção do Espírito Santo. Agradecemos por cada cristão (ã), leigos batizados, crismados, e vocês que receberam o sacramento da Ordem: diáconos e presbíteros. Em especial por vocês caríssimos presbíteros de nossa Igreja Diocesana, sacerdotes diocesanos e religiosos, hoje louvamos a Deus por vocês. Como vosso bispo, agradeço por poder contar convosco em nossa Igreja, a qual completa seus setenta anos de criação. Quantos presbíteros passaram por esta Igreja, regando-a com seu suor apostólico e proclamando o “ano da graça do Senhor”! Nossa gratidão!
Brilha entre nós o testemunho de sinodalidade de vocês, ministros ordenados, que hoje vivem seu ministério como serviço ao Povo de Deus, de maneira dialogal, participativa, comprometidos com uma espiritualidade da escuta. Fazem das comunidades em toda a nossa Diocese, local de acolhida e missão, onde o anúncio de Jesus Cristo, se faz mais pelo testemunho do que por palavras, especialmente pelo testemunho de uma vida no cumprimento das promessas sacerdotais que hoje renovarão.
Quanto trabalho realizado em prol do Evangelho, quantas bênçãos recebem os fiéis por vossas mãos ungidas. Curando os corações feridos, anunciando redenção e liberdade! Deus lhes pague! É o sentimento de gratidão de nossa Igreja Diocesana por cada um de vocês. Neste dia o povo fiel, junto comigo vos dizemos: conte conosco, rezamos e acompanhamos vocês com nosso afeto e proximidade. Não desanimem!
No espírito sinodal, todos os batizados somos responsáveis pela Igreja, cada um segundo a tarefa específica da vocação que recebeu do Senhor. No entanto, muitos de nós, cristãos leigos e ministros ordenados, por vezes, experimentamos uma espécie de cansaço pastoral, fruto da complexidade dos tempos presentes. Não é verdade?
Por isso precisamos renovar nossa esperança. Nossa esperança está em Jesus Cristo. A lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Jesus é a Boa-Nova, o Evangelho de Deus para a humanidade. Sendo Ele o grande missionário do Pai, ele mesmo é o primeiro e principal evangelizador. O modo de Jesus evangelizar deve definir nosso modo de realizar esta tarefa. Cada dia se torna mais urgente termos uma “mística” com base no conhecimento de Jesus. Pois Jesus é “aquele que nos ama e fez de nós um Reino de sacerdotes para glória de seu Pai” (Ap 1, 45-6)
Como agiu Jesus? Ele agiu sempre como aquele que serve, disposto a carregar os sofrimentos, os pecados e as incompreensões dos seus irmãos. Ele anuncia a Boa-Nova do Reino aos pobres e pecadores (cf. Lc 4, 16-21). Ninguém fica excluído de sua mensagem. Para poder agir assim, Jesus vai ao encontro das pessoas onde elas estão, desce aos lugares escuros da injustiça, da apatia e onde o sofrimento é intenso.
O Tríduo Pascal, ápice do ano litúrgico, coloca-nos no núcleo de nossa fé. É na glória da cruz de Cristo que brilha o mandamento do amor (lava-pés); é no brilho dessa cruz que resplandece o sacramento do amor (Eucaristia); é no esplendor dessa cruz que podemos cumprir o pedido do Mestre: “fazei isto em memória de mim”.
A ceia e o lava-pés resumem todo o itinerário pascal do Verbo encarnado, que existindo desde toda a eternidade no seio do Pai, entrou na nossa história tomando a forma de servo e armou sua tenda em nós (cf. Jo 1,14); a sua Páscoa é culto e serviço. Para nós cristãos “culto” e “serviço” têm significados idênticos!
Celebrar a Ceia do Senhor é estar disposto a aprender as grandes lições do autêntico serviço (a Deus e ao próximo). Não basta apenas estar na ceia “do Senhor”, é preciso estar na ceia “com o Senhor”: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”. Sem ser servido pelo Mestre não se aprende o verdadeiro serviço aos outros.
A expressão “não terás parte comigo”, resume o testamento de Jesus, isto é, deixar que Ele te sirva é herdar a sua vida, a sua missão. O seu discípulo continuará a fazer no mundo, o que aprendeu do Mestre. Não basta saber o que Ele mandou fazer, mas é preciso aprender com Ele o modo de fazê-lo. Necessitamos deixar Jesus nos servir para saber o que é o serviço que ele nos pede.
Aqui está a grande novidade do serviço de Jesus, a sua marca fundamental, livre de qualquer ambiguidade ou demagogia. Mas quando o Senhor lava os pés do servo, toda lógica humana estremece, o novo irrompe dando-nos uma lição inédita. Jesus não abandonou o seu senhorio ou autoridade, pois os recebeu do Pai. Mas ele usa seu poder para servir. Esta é a lógica do Reino.
Ao assumir a condição de servo, Jesus não se tornou impotente, fraco, incapaz, mas pelo contrário, manifestou-se nele o poder de Deus, do seu amor que vai até o extremo, pois é “
próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua onipotência”. Quando a autoridade perde a sua potente capacidade de servir, enfraquece e pode cair na tentação de apelar para o autoritarismo.
A cada Eucaristia, o Senhor nos convida a sentar-se com Ele à mesa, alimenta-nos com sua palavra, reparte conosco o seu corpo e sangue, ou seja, a sua vida entregue como serviço ao Pai e à humanidade. Esta é sua herança para todo batizado. E para ser sinal de sua bondade de bom Pastor, ele deixou o sacerdócio ministerial com a missão de agir em seu nome para a vida do mundo. Continuemos vivendo em nosso Clero a proposta da CF/2024: “Fraternidade e amizade social”. Não existem padres amigos e os que não são amigos. Somos um corpo unido em Cristo pela unção sacerdotal.
Antes da benção final desta Celebração Eucarística cada padre receberá de lembrança, um “pequeno” livro, com uma linda reflexão sobre a liderança do sacerdote na comunidade eclesial, escrito por um famoso autor de espiritualidade cristã, peço que leiam com atenção. Fará muito bem!
Que possamos ser fortalecidos no cumprimento de nossa missão por estes óleos que iremos abençoar.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
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