Queridos irmãos e irmãs, Deus seja louvado.
Hoje celebramos a festa litúrgica de S. José Operário.
Assim fazemos aqui nesta igreja a muitos anos. É uma ação de graças pelo dom da vida, pela salvação que temos em Jesus Cristo, pelo amor de Deus que nos ensina a viver como viveu S. José Operário, exemplo para nós.
São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para sustentar a família. Foi com S. José que Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa sustentar-se com o fruto do próprio trabalho.
Esta festa de S. José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho.
São José foi o homem do serviço, da disponibilidade a Deus, da caridade sincera e da fidelidade a toda prova. Ele foi homem justo e trabalhador, aí está sua dignidade.
O Dia do Trabalhador, neste contexto de pandemia da COVID-19, evidencia as muitas feridas do mundo do trabalho: os sem-trabalho sinalizam rostos sofridos e desesperançados. São mais de 14 milhões de desempregados em nosso país. Deles 6 milhões desistiram de procurar emprego, segundo estatísticas noticiadas na mídia.
A chaga do mundo do trabalho torna-se ainda mais grave quando alguns se enriquecem inescrupulosamente enquanto muitos convivem com a fome.
Este é um cenário que se perpetua por causa dos modelos desvirtuados de exercício da política, pela indiferença social, por uma cultura excludente. É urgente uma nova lógica na organização da sociedade e na economia, para que sejam evitados tantos sofrimentos, tantas mortes.
O que precisa mudar? Nossa sociedade padece com a falta de compaixão. Uma carência que prejudica a inteligência humana, ofuscando a sua luminosidade. É preciso desenvolver a ética do cuidado com os pobres, excluídos e desempregados. Tirar o coração duro e colocar um coração que saiba compadecer-se, ter misericórdia.
A solução está colocada pela Palavra de Deus que ouvimos e que nos chama para viver um novo paradigma: a amizade social, como da chama o Papa Francisco na Fratelli Tutti. A sociedade tem condições e meios para ser justa e solidária, pautada pela lógica da amizade social, ao sabor do Evangelho de Jesus Cristo. Precisamos nos converter a estes valores evangélicos. A vida é bem precioso, é dom de Deus. Ela tem mais valor que o dinheiro.
Na perspectiva do cristianismo, o Dia do Trabalho é um grito de trabalhadores e trabalhadoras sem rumo, sem trabalho, desamparados. Um clamor que precisa incomodar os insensíveis, inspirar os que têm maior responsabilidade na condução da sociedade.
Qual é o gesto concreto que a Palavra de Deus nos inspira? O gesto prioritário é a solidariedade, exercida em rede. O futuro de nossa sociedade combalida pela pandemia que nos assola, é a solidariedade. Os cristãos, em diálogo aberto e cooperativo com a sociedade pluralista, são convocados a ajudar para que a solidariedade se torne um princípio ético da vida social.
Essa responsabilidade está enraizada nas muitas lições do Mestre e Senhor Jesus, que diz: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” e “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Assim, a Doutrina Social da Igreja Católica reúne elementos merecedores de redobrada atenção e comprometimentos. Temos urgência de investir na solidariedade como princípio social e virtude moral.
A Palavra de Deus nos mostra como Jesus é rejeitado no seu projeto do Reino de Deus, Reino de justiça e paz. Por que? Porque Jesus não era violento. Ele praticava a não violência ativa, que consiste na firmeza permanente, sem uso da violência. Isto sim é que muda a história. É esta a lição de Jesus que S. José soube tão bem seguir. Todos os que mudaram a história foram por este caminho: Santo Dias da Silva , Madre Teresa, Dom Oscar Romero, Dom Helder Câmara, Martin Luther King, Ghandi, e muitos homens e muitas mulheres, verdadeiras lideranças que clamaram por um mundo justo e foram todos perseguidos, alguns assassinados. Mas estão vivos em Deus, sob o altar do Cordeiro, esperando completar o número dos martirizados para que Deus faça justiça. E Ele o fará. Está fazendo. (Cf. Livro do Apocalipse).
Devemos reconhecer que trabalhar é um direito e um bem fundamental para cada pessoa. O trabalho é útil e necessário para formar e manter uma família, para efetivar o direito à propriedade e oferecer contribuição na promoção do bem comum. O desemprego é problema que desafia principalmente o Estado a promover adequadas políticas públicas capazes de gerar trabalho, em vista do bem comum.
A Doutrina Social da Igreja Católica mostra a necessidade de se reconhecer que o trabalho humano é condição indispensável para a promoção da justiça social e da paz civil. Sem trabalho não há dignidade para as famílias.
Termino com as palavras do Papa Francisco na sua Carta Apostólica sobre S. José: “Peçamos a S. José Operário que encontremos vias por meio das quais possamos colocar em prática o seguinte: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!” (Patris Corde n. 6).
Deus abençoe os trabalhadores e trabalhadoras. Amém
Dom Pedro Carlos Cipollini
Source: Diocese