HOMILIA DE ORDENACÃO DIACONAL
Paulo Chiweca Cipriano e Raimundo Maciel Ribeiro, SVD
Paróquia Santo Arnaldo Janssen Diadema – Diocese de Santo André – SP
Dom Pedro Carlos Cipollini
Is 6,1-8; At 6,1-7 e Ev. Jo 1-18
“Exerça o dom que recebeu para servir os outros”( 1Pd 4,10)
Este versículo que vocês escolheram para lema de ordenação diaconal é todo um programa de vida. É um convite a uma vida fora do egoísmo. Desenvolvida plenamente no âmbito do amor serviço. E aqui fala mais o testemunho do que considerações teológicas, bíblicas ou espirituais. Por isso peguei o exemplo de vida de um santo verbita, e é sobre este testemunho de vida, conforme o lema que escolheram, que desejo proferir esta breve homilia, no contexto desta ordenação diaconal.
Refiro-me a São José Freidemetz que nasceu no dia 15 de abril de 1852, na cidade de Oites, no Tirol do Sul, que na ocasião era território austríaco, mas a cidade hoje se chama Alta Badia e pertence a Itália. Seus pais eram camponeses pobres, tiveram treze filhos e formaram uma família muito cristã.
O pequeno José, desde a infância queria ser um missionário. Estudou no seminário da diocese de Bressanone, onde foi ordenado sacerdote em 1875, tornando-se assim um padre do clero diocesano. Depois de três anos de ministério em São Martino, na Alta Badia, com autorização de seu Bispo, ingressou na Sociedade do Verbo Divino, em Steyl, na Holanda, para ser um missionário e realizar assim seu sonho, sua vocação mais profunda.
Em 1879, recebendo a cruz dos verbitas, foi enviado para a missão da China. Ficou dois anos em Hong Kong, para adaptação dos costumes, aprendizado da língua, e depois foi enviado para a primeira missão católica em Shandong do Sul, junto com um companheiro da Ordem, João Bata Anzer.
“A quem enviarei? Quem irá por nós?” (Is 6,8). Este versículo da primeira leitura, esta pergunta ou interpelação da Palavra de Deus, encontrou no jovem sacerdote José Freidemetz uma resposta não só com desejos, mas com a vida, não com bons propósitos, mas com a entrega total, a serviço da missão em favor do Reino de Deus, entre desconhecidos. No carisma de Santo Arnaldo Janssen, esquecido de si e dos seus próprios interesses, ele iniciou uma grande aventura. É isto que Deus espera de vocês caros ordenandos. Que se tornem servos da Palavra para a vida do mundo, lançando-se para águas mais profundas, na tarefa de pescadores de homens para Deus.
Os dois missionários encontraram uma comunidade minúscula de cristãos, com menos de duzentos fiéis em meio a um total de habitantes que era de nove milhões. Começaram a evangelização com visitas pastorais em todas as vilas, fazendo contato com as pessoas e as famílias, como fazia Jesus.
Aos poucos o povo se afeiçoou ao caridoso, ativo e incansável Padre José, a quem deram o nome chinês de Padre Fu Shen Fu, que significa Padre Feliz. Com muita oração, fé na Divina Providência e extremo zelo missionário, conseguiram construir a Igreja, o seminário, o orfanato, a tipografia e a escola. Que grande lição nos dá este santo: encontrar a felicidade na missão, descobrir que há mais alegria em dar que em receber (At 20,35).
O Evangelho que foi proclamado diz: “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Das alturas desce até nós o Verbo Divino, A Palavra pela qual tudo foi criado, Jesus! Na sua “kenose” Ele nos ensina a vida de verdadeiros missionários. Ele o “missionário” do Pai. E qual é este caminho? Qual é este lugar? É o caminho do serviço humilde, o lugar do servo. O diácono é aquele que deve mostrar para a Igreja o Cristo Servo, deve mostrar à Igreja que todo ministério tem forma diaconal, serviçal. Queridos Paulo e Raimundo. A exemplo de S. José Freidemetz, fujam das honras, do poder mundano, da glória e vaidade. Isto arruína a missão, esconde Jesus para fazer aparecer o missionário. Que em vós, a Palavra que veio para servir, e não para ser servida, se encarne novamente, na monotonia do dia a dia, do começo ao fim.
Em 1898, Padre José adoeceu e teve de se distanciar de sua querida Shandong, aliás ele só o fez esta única vez. Viajou para Nagasaki, no Japão, para tratar de uma tuberculose que estava começando. Mas retornou logo, mesmo sem estar totalmente curado.
Em 1900, quando a China viveu a rebelião dos Boxer, e os cristãos eram perseguidos por seus integrantes, Padre José permaneceu firme ao lado do seu rebanho, rezando e sofrendo com eles. Recusou viajar para a Holanda e participar das celebrações do jubileu de prata da Congregação do Verbo Divino, que, por sinal, coincidiam com a data de sua ordenação.
Sete anos depois o governo chinês declarou uma epidemia de tifo. Padre José, esteve à frente no atendimento e socorro às vítimas. Contraiu a moléstia e morreu no dia 28 de janeiro de 1908, em Taikia.
Nesta ocasião, a diocese já contava com quarenta mil adultos convertidos e cento e cinquenta mil crianças batizadas. A sua entrega à vida missionária no segmento de Cristo e seu amor ao povo chinês ele expressou em conversa com um irmão verbita, ele disse: “Se pudesse reaver a juventude, escolheria outra vez a minha vocação, escolheria ser missionário no sul de Shandong“. O bom missionário é aquele que quando chega no fim da missão, deseja começar tudo de novo, desde o início.
Diz a segunda leitura: “Entretanto, a Palavra de Deus se espalhava” (At 6,7). Dedicados à oração e ao serviço da Palavra, as sementes crescem e dão fruto. Assim foi na vida de São José Freidemetz. Sem a oração os apóstolos entenderam que a Palavra é semeada sem adubo. Por isso muita missão sem oração, muita escuta da Palavra sem oração fica sem efeito, não cresce e se cresce não dá fruto para o Reino, mas somente frutos para o missionário. Sejam, portanto, missionários que ouvem a Palavra e rezam a Palavra, para poderem evangelizar e anunciar a palavra com a força de Deus que tudo pode e não a vossa que é curta. Só quem reza pode ser livre e libertador como o foi Jesus, o grande orante dos Evangelhos.
Canonizado no ano 2003, pelo Papa João Paulo II, São José Freinademetz é festejado no dia de sua morte, sendo reconhecido o Padre fundador da Igreja do Sul da província de Shandon na China.
E assim, em Jesus, através de seus fiéis seguidores, “recebemos graças sobre graça” (Jo 1, 16).
AMEM
Source: Diocese