HOMILIA – MISSA POSSE PADRE ROMEU LEITE ISIDÓRIO
20/08/2021
Paróquia Santíssima Virgem – São Bernardo do Campo
Primeira Leitura Rute: 1, 1.3-6.14-16.22
Evangelho: Mateus 22,34 – 40
A primeira leitura conta a história de uma família pertencente ao Povo de Deus bem antes de Jesus Cristo, que morava em Belém da Judéia. Pai, mãe e dois filhos que precisaram ir para um país estrangeiro a fim de não passarem fome. Vão da Judéia para o pais de Moab. São o Sr. Emelec sua esposa Da. Noemi e os filhos Molam e Quelion. Lá os dois filhos se casam com mulheres estrangeiras: Orfa e Rute. Os homens desta família acabam morrendo, ficam somente Noemi e as duas noras, todas viúvas.
Dona Noemi resolve voltar para o seu povo de Israel e diz ás noras que não se preocupem com ela, ela assume sua solidão, que cada uma siga seu caminho. Uma se despede e vai embora, vai viver sua própria vida. A outra, Rute, lhe diz que não a abandonará e a seguirá onde for: “Para onde fores irei contigo, teu povo será o meu povo e teu Deus será o meu Deus”. Sabemos que Noemi e Rute, ambas viúvas, voltaram para Belém e lá esta família destruída se refez. Rute se casou e teve um filho. Rute foi a bisavó do Rei Davi.
O que esta história nos ensina. É uma história que nos dá muitas lições sobre o agir de Deus e seu projeto de um povo com pessoas acolhedoras e solidárias. Quero ressaltar, porém, a lealdade de Rute a sua sogra. Foi esta sua atitude, reflexo da lealdade de Deus para conosco, que possibilitou resgatar esta família e continuarem a fazerem parte da história do povo de Deus, como herdeiros da promessa. Deus dirigiu o destino destas duas mulheres que viveram em sua época, na prática, o que Jesus nos ensina no Evangelho de hoje: o mandamento do amor que é maior que toda lei, aliás é o cumprimento da Lei.
No Evangelho, Jesus, sendo interrogado sobe qual o maior mandamento responde que é: Amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo, por amor a Deus. O amor a Deus e ao próximo é o “summum bonum”, o principal de nossa vida espiritual, de nosso itinerário para Deus.
Este amor, porém, não é sentimentalismo, mas é feito de entrega, solidariedade, renúncia e lealdade constante, dia após dia. Lealdade a uma decisão tomada com maturidade: viver a vida no amor! Sim, não existe escola, faculdade para ensinar a amar, ao contrário do que se pensa não nascemos inclinados para o amor. Nosso natural é o egoísmo. Aprendemos a amar em uma comunidade, na família, aprendemos com a vida. Amar a Deus e ao próximo é um aprendizado e uma conquista diária, que se dá sob o influxo da graça de Deus. Isto exige nossa decisão, esforço, renúncia e lealdade.
Rute deixou de lado seus interesses e se colocou a serviço de sua sogra já idosa. Colocou-se ao lado da pessoa que lhe era próxima, para amar e servir. Pois o serviço é a marca registrada de quem ama. O egoísta ama-se a si mesmo, e seu bem estar acima de tudo. É a ilusão de uma liberdade absoluta, que na verdade não inclui o amor, pois o amor requer sacrifícios. Quem ama sofre como Jesus e o sofrer ensina a amar. Nenhum inimigo da cruz saberá amar e nem poderá ser amigo de Jesus.
Hoje, toma posse nesta comunidade como pároco o Padre Romeu. Precisamos falar de sua nova missão a partir da Palavra que a providência de Deus, através da liturgia da Palavra nos proporciona hoje. Rute com sua atitude solidária e amorosa possibilita a reconstrução de uma família. Refaz a comunidade. Rute foi fiel á sua sogra, que era o que sobrou, da raiz daquela família, desfeita pela morte e a pobreza.
Que o Sr. Pe. Romeu, possa assumir com lealdade e dedicação esta comunidade paroquial. Seja o bom pastor que cuida. Assim como fez Rute com sua sogra Noemi. Assumir o pastoreio por amor, gratuitamente, na disposição ao sacrifício, preferindo os interesses de Cristo, ou seja, o cuidado dos irmãos, da comunidade, aos próprios interesses. Saiba que o maior presente do padre para a paróquia é a presença. Lembre-se do que disse o Senhor Jesus; “Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27). E Deus, que não se deixa vencer em generosidade o premiará abundantemente, com o cêntuplo, como Ele prometeu.
Permitam-me fazer uma citação extraída de um livro do Cardeal Eduardo Pirônio, ora em processo de beatificação. Achei iluminado seu comentário sobre o serviço do sacerdote a Deus e á comunidade. Ele escreve: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos (Mt 20,28)… A identidade do Senhor é a identidade do Servo, deste Servo, do qual havia profetizado Isaías e que nos é apresentado nos quatro cânticos. Por isso, é bom reler estes cânticos do Servo Sofredor que personifica Jesus, junto com a passagem evangélica das três tentações que justamente pretendem apartá-lo de sua identidade (cf. Is 42,1-7; 50,4-5)… Nesta linha do Servo de Javé, de servos e servidores dos demais, se inscreve nossa identidade sacerdotal. Quando nos apartamos daqui, para centrar tudo em nós mesmos e fazer de nosso ministério um protagonismo que não é o de Cristo, fugimos de nossa missão e de nossa identidade de sacerdotes, que é ser Cristo, em meio dos homens, esperança da glória (cf. Col 1,27). É importante compreender as tentações de Jesus como tentativas do demônio de fazê-lo perder sua identidade de servo” (Card. Pironio, Cristo entre nosotros, PPC/Ed., Madrid, 1998, p. 74-75).
Convido a comunidade paroquial desta dinâmica e querida Paróquia da Santíssima Virgem criada em 21 de setembro de 1960, tendo como primeiro pároco o Pe. Mário Balestra, possa acolher o padre Romeu como seu quinto pároco. Acolhe-lo não só no espaço físico da comunidade e nos relacionamentos, mas acolhê-lo no coração. E mais que isto assumir a vida da comunidade paroquial que é de todos porque a ela todos pertencem pelo batismo.
Hoje, dia de São Bernardo, peçamos sua intercessão pelo novo pároco e por todo o município que traz seu nome e que aniversaria hoje. Muita saúde, paz e bênçãos de Deus para todos.
Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André
Source: Diocese