Afirmam alguns que a liberação dos jogos e cassinos, no Brasil, vai gerar muitos empregos e impostos. A quem os defensores da liberação pretendem convencer? A mim parece que a legalização dos jogos e cassinos, no Brasil, irá gerar uma grande cadeia de organizações suspeitas, como meio para implementar lavagem de dinheiro, evasão de divisas e prostituição, dando uma aparência de legitimidade para recursos de origem ilícita. É o que acontece na maioria de países onde estes estabelecimentos são liberados.
No Congresso Nacional, infelizmente, ao menos um grupo de congressistas, se mobilizam para reativar o assunto “liberação dos jogos”, pretendendo aprovar matérias legislativas sob esse tema, que se encontram tramitando nas duas Casas Parlamentares. Segundo levantamentos, encontra-se na Câmara dos Deputados o Projeto de lei 442/191. No Senado, tramitam os Projetos de lei nºs 186/2014, 595/2015, 2648/2019 e 4495/2020.
A legalização dos jogos de azar é reconhecida como causadora de alguns danos à sociedade. Seus defensores sobrepõem os argumentos quanto ao incremento do turismo, atração de investimentos estrangeiros e alta demanda pelo serviço gerado, sendo fácil quantificá-los em números, enquanto os contra-argumentos são dificilmente mensuráveis e têm seus custos difusos na sociedade.
Os estragos que os grandes centros de jogos de azar poderão acarretar não ficam somente na permissividade para que grupos possam agir na criminalidade sob a tutela do Estado, atingem diretamente a estrutura de famílias, que são a base de toda a sociedade. A liberação vai favorecer a ter mais jogadores patológicos, mais famílias sofrendo e mais gente tendo problemas com isso. A destruição de famílias se tornará em realidade, sem a qual não se tem alternativas de solução
O vício em jogos já afeta hoje 1% da população brasileira, ou seja, mais de 2 milhões de pessoas, segundo o Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo – USP, isso sem ainda termos sua legalização. O problema é tão sério que a Organização Mundial da Saúde – OMS, colocou o jogo compulsivo no Código Internacional de Doenças, ao lado da dependência do álcool, cocaína e de outras drogas.
Os prejuízos do vício são sociais, profissionais e financeiros. Afeta principalmente a família. Além disso, o viciado também perde a moral e o respeito, e, em casos agudos, se não for tratado, pode se tornar um mendigo ou tirar a própria vida. O transtorno do jogo é uma dependência que não tem volta, segundo profissionais da área, e muitas vezes é uma doença que não tem a devida importância. Quanto mais disponível o jogo estiver, maior será o número de pessoas vulneráveis a ele.
O problema de dependência não se resolve com a proibição dos jogos pura e simplesmente, mas a inexistência dos cassinos e grandes centros turísticos destinados a esse fim diminui muito a prevalência da doença, sem o que, em dados estimados, o Brasil caminhará para ter cerca de 4 milhões de viciados em jogos.
Disse a respeito do jogo, George Washington: “O jogo é filho da avareza, irmão da iniquidade, e pai do crime”.
Será que vamos admitir que esse vício venha a se tornar lei em nosso País?
* Artigo de Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André
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