A Penitenciaria Apostólica apresenta um novo acervo de documentação aberto para consulta: ‘O Arquivo do Teólogo’, relativo à atividade consultiva do teólogo do Dicastério. O projeto recebeu a aprovação do Papa Francisco em 2019.
A definição do teólogo da Penitenciaria Apostólica é: “Prelado encarregado de assistir o Penitenciário Mor, examinando os casos mais complexos submetidos ao Tribunal e propondo sua resolução”. Seu arquivo, ou melhor, a documentação relativa a suas atividades, está agora aberta para consulta, oferecendo documentos que abrem novos caminhos de pesquisa sobre o trabalho do Tribunal, visto “de dentro”.
O arquivo, de fato, permitirá reconstruir a formação cultural e o método de trabalho dos teólogos, membros da Companhia de Jesus, compondo por fim um verdadeiro “tratado de prática teológica e jurídica”. As especificidades do arquivo serão descritas em detalhes na sexta-feira 22 de outubro pelo atual teólogo da Penitenciaria, padre jesuíta Ján Ďačok, que falará no último dia do VII Simpósio organizado pelo próprio Dicastério que está sendo realizado em Roma, no Palácio da Chancelaria.
Fontes inéditas
“Penitência e Penitenciaria entre Revoluções e Restaurações (1789-1903)”. É o tema do simpósio gira em torno de dois pontos principais: a evolução das formas da penitência e da espiritualidade penitencial durante o “longo século XIX”, ou seja, entre a Revolução Francesa (1789) e a morte do Papa Leão XIII (1903), e o papel da Penitenciaria Apostólica dentro da Cúria Romana e da Igreja daquela época, fortemente marcada por convulsões políticas, sociais e religiosas. Uma operação que será possível graças ao “Arquivo do Teólogo” e as suas fontes até agora desconhecidas.
O século XIX, um século dilatado e complexo
“O longo século XIX foi um século ‘dilatado’, explicou o Cardeal Mauro Piacenza, Penitenciário Mor, falando na quinta-feira, 21 de outubro, na abertura do Simpósio, “um período significativo e complexo para a vida da Igreja, marcado por profundas transformações e fortes contrastes”. Naquela época, de fato, foi o tempo de “batalhas entre a Igreja Católica e a civilização moderna que surgiu da Revolução”, um duro confronto travado sobretudo “no terreno filosófico e religioso” para frear “a tendência à secularização e à eliminação do sobrenatural pelos Iluministas”. A Revolução Francesa, a ascensão de Napoleão Bonaparte, o exílio dos Papas, as revoltas do “Risorgimento”, lembra o cardeal, marcaram aquele “período histórico complexo e fascinante, no qual a Igreja experimentou a passagem do Ancien Régime “, preparando-se para enfrentar “os desafios dos novos tempos, movendo-se entre inovações e restaurações no caminho da contemporaneidade”.
O acolhimento amoroso do penitente
Neste contexto, sublinha o Penitenciário Mor, o sacramento da confissão surge como “um dos lugares privilegiados de expressão religiosa dos fiéis no século XIX”, graças também a figuras como Santo Afonso Maria de’ Liguori, ponto de referência indiscutível da teologia moral católica da época; o Cura d’Ars, nascido João Maria Vianney, uma personalidade “luminosa”; os padres piemonteses Giuseppe Cafasso e João Bosco. Todos eles, explica o Cardeal Piacenza, foram “exemplos admiráveis de um novo grupo de confessores que promoveram uma ação pastoral renovada que privilegiou, no sacramento da reconciliação, a acolhida amorosa do penitente”, juntamente com o lançamento de “um caminho de conversão e cura espiritual”.
O Jubileu de 1825 e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus
Esta renovada ação pastoral, acrescentou o cardeal, fazia parte da “inclinação geral para a expiação e a penitência” que permeou todo o século XIX, em reação aos “excessos profanatórios e convulsões políticas” que estavam surgindo e que empurraram a Igreja a “fazer penitência, converter-se a Deus e pedir perdão pelos pecados cometidos, tanto em nível pessoal como coletivo”. Esta inclinação levou a dois eventos significativos: o Ano Santo de 1825, o único Jubileu celebrado em Roma em todo o século XIX, e o renascimento da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, devido a Santa Margarida Maria Alacoque e marcado pela construção da Basílica de Montmartre em Paris: inaugurada em 1891, que desde então tem acolhido adoração eucarística perpétua.
O papel da Penitenciaria Apostólica
Sobre a atividade da Penitenciaria Apostólica, o Cardeal Piacenza salientou que durante “os anos tempestuosos” da ocupação de Roma por Napoleão (1808-1814), foi “o único entre os Dicastérios da Cúria Romana que garantiu a continuidade de seu trabalho, graças à fidelidade e coragem de seus funcionários diante das questões mais sérias do momento”, tais como “a constituição civil do clero, a secularização dos religiosos e a alienação dos bens eclesiásticos”. Mais tarde, no período da Restauração, a Penitenciária foi igualmente importante “na cura de feridas e no restabelecimento da ordem, com vistas a uma ‘restauração das almas’”. Daí a esperança do Cardeal Piacenza de que o 7º Simpósio seja uma oportunidade para os crentes “reconhecerem na Igreja uma realidade que é ao mesmo tempo humana e divina, pecaminosa em sua fragilidade e ao mesmo tempo santa, porque foi escolhida por Cristo para transmitir seu Evangelho e levar a humanidade à redenção”.
Pecado, misericórdia e reconciliação na arte
Um dos destaques do Simpósio foi uma palestra do Maestro Marco Frisina e da Dra. Adele Breda dos Museus do Vaticano, focalizando as obras de arte figurativa, literárias e musicais do século XIX ligadas aos temas do pecado, da misericórdia e da reconciliação.
Fonte: Isabella Piro – Vatican News
Foto: Vatican News
Source: Diocese