Eu não lembro muito bem quando minha história e de Santa Luzia se cruzaram, mas tenho certeza que ela sempre esteve comigo.
Quando era criança, por volta dos 7 anos de idade, fui diagnosticada com astigmatismo e miopia e comecei a usar óculos. Até então tudo normal, porém, conforme foram passando os anos, meu grau começou a aumentar cada vez mais. Lembro que enquanto adolescente, mesmo sendo alta, costumava sentar nas cadeiras da frente da sala de aula para poder enxergar melhor as matérias na lousa.
Os anos foram passando e minha visão foi ficando cada vez pior, principalmente por causa do astigmatismo avançado, tinha dificuldade de pegar ônibus, reconhecer as pessoas que passavam do outro lado da rua e também, algo que me recordo bastante era a dificuldade de ver a Santa Eucaristia durante a missa.
Foi quando aos 18 anos, em 2010, em uma das minhas consultas de rotina ao oftalmologista fui diagnosticada com ceratocone, que é uma doença que atinge a córnea dos olhos, modificando de diversas formas sua estrutura, o que explicava o meu alto grau de astigmatismo.
Imediatamente, eu e meus pais começamos a procurar médicos especialistas para poder me atender, foi quando um tio meu encontrou uma médica em São Caetano. Então, eu comecei a me consultar com ela, fazer exames, tudo particular, até que chegou o momento que a médica disse que eu deveria ser transplantada, pois a doença já estava muito avançada, e meus pais não tinham condições de pagar pela cirurgia.
Ficamos desolados e muito tristes, eu não citei, mas anteriormente quando criança, passava com os médicos do SUS na Fundação Santo André, foi quando meu pai lembrou e pediu ajuda para um amigo, e pela graça de Deus eu voltei a ser paciente na Fundação Santo André, pelo SUS.
E é aqui que minha história com Santa Luzia começa, eu não lembro exatamente quando descobri que ela era protetora dos olhos, mas ao lado da fundação Santo André tem uma paróquia dedicada a ela, e eu acredito que isso não seja uma coincidência, mas sim um cuidado de Deus. A essa altura muitas pessoas já sabiam do meu problema, sabiam da gravidade e rezavam para que tudo ficasse bem.
Lá na Fundação comecei o meu tratamento praticamente do zero, passando por várias avaliações, tentativas de uso de lentes de contato rígidas, uma cirurgia para estabilizar a visão, mas nada resolveu o problema, até que os médicos chegaram à conclusão que eu deveria ser realmente transplantada.
Desde o começo do meu tratamento até a cirurgia foram 3 anos, e em junho de 2013 fiz minha primeira cirurgia, no olho direito. Meu transplante foi um sucesso, tive uma ótima recuperação e tudo pelo SUS, sem gastar absolutamente nada. A partir desse fato me tornei realmente devota de Santa Luzia, conheci sua história a fundo e passei a pedir sua intercessão sobre minha visão, e é aqui que Deus começa a agir na minha vida através da Sua misericórdia.
Nesse mesmo ano de 2013 eu comecei a fazer parte da PASCOM da minha paróquia na época (Nossa Senhora das Dores, região Santo André Centro) e comecei a ter interesse por fotografia, em 2015 eu comprei minha primeira câmera e passei a ajudar mais nessa parte de fotografia, nos eventos da paróquia e até mesmo da Diocese. Aí vocês podem perguntar, e visão dela como estava? E o olho esquerdo?
Então, graças a Deus minha visão do olho direito ficou bem melhor, mas eu ainda tinha que usar óculos por causa do olho esquerdo e também por que me restaram graus de miopia no olho direito, mas nada se compara com minha visão antes da cirurgia.
Nesse tempo, eu continuei passando nos médicos da Fundação e continuei com meu tratamento para futuramente operar o olho esquerdo. Mas, como todo transplante há riscos então os médicos tinham que ter certeza que um olho ficaria bem para poder operar o outro.
Voltando à fotografia, eu comecei a perceber que realmente Deus tinha me dado um dom, pois eu nunca tive interesse por essa área. Lembro que as pessoas da paróquia sempre elogiavam minhas fotos, e isso foi tomando uma proporção que eu nunca imaginei.
Em 2016 comprei uma outra câmera, um pouco mais profissional e passei a ajudar ainda mais na minha paróquia e na diocese, tive oportunidade de fotografar em Aparecida, eventos como o Festival Vocacional, romarias, ordenações e também fiz alguns trabalhos particulares remunerados.
Aqui fica claro a misericórdia e como Deus age através de nós e das nas nossas misérias, aquilo que era a minha maior dificuldade acabou se transformando no meu maior servir dentro da igreja. E em 2016, três anos após eu ter sido operada, eu fiz o transplante no olho esquerdo e a partir desse ano que minha história se cruza de vez com a história de Santa Luzia. Em 2016 minha mãe veio a ser diagnostica com um câncer de mama, e eu fui operada no mesmo dia do primeiro ciclo de quimioterapia dela.
Para você que ainda não conhece a história de Santa Luzia, peço que conheça, mas vou contar brevemente um fato que marca sua história. A mãe de Santa Luzia estava muito doente, e Santa Luzia acreditava que se a levasse ao túmulo de Santa Águeda (também conhecida como Ágata) sua mãe seria curada, e assim aconteceu.
Lembram que eu falei que minha mãe foi diagnosticada com um câncer de mama? Pois bem, além de Santa Ágata ser também protetora das mamas, eu carrego o mesmo nome que ela. Então acredito que no dia 16 de junho de 2016, Santa Luzia estava comigo naquela sala de cirurgia e Santa Ágata estava com minha mãe naquela clínica.
Infelizmente minha mãe veio a falecer em março de 2017, mas eu nunca deixei de acreditar que a intercessão de Santa Ágata foi real na vida dela.
Hoje estou com 30 anos e graças a Deus muito bem dos dois olhos, meus transplantes foram um sucesso, faz seis anos que concluí o segundo transplante, sem nenhuma rejeição e posso dizer que há 10 anos sou paciente do SUS com muito orgulho.
Estou noiva, de casamento marcado para setembro do ano que vem e meu maior sonho é passar a lua de mel na Sicília, Itália, como forma de agradecimento por tantas graças alcançadas por intercessão de Santa Luzia e Santa Águeda.
Eu sou testemunha do que Deus pode realizar em nossas vidas a partir do nosso sim a Ele, e como a intercessão dos santos são fundamentais para a nossa fé.
Que Santa Luzia possa interceder por cada um que recorre a ela, e mais do que a visão física que ela possa nos ajudar a enxergar com os olhos do coração.
Santa Luzia, rogai por nós!
Artigo por Ágata Suzane Feitoza Soares, paróquia São Bento-São Caetano do Sul
Source: Diocese