O Dia Internacional da Educação é comemorado todo 28 de abril. A data originou-se a partir do Fórum Mundial de Educação, realizado em abril de 2000, na cidade de Dakar, no Senegal. Neste evento, representantes de 180 países firmaram compromisso, por meio da assinatura de um documento, para que o ensino chegasse a todas as pessoas do planeta até 2015.
E neste ano de 2021, em plena pandemia da Covid-19, os impactos na educação, a prevenção e o cuidado dos profissionais da área e dos alunos, bem como os desafios na retomada escolar pós-pandemia são assuntos debatidos diariamente para que o ano letivo não fique ainda mais comprometido, mas que sobretudo se priorize a vida em primeiro lugar.
Defasagem no aprendizado e os impactos na saúde mental
O diácono permanente e coordenador diocesano da Pastoral da Educação, Renan Evangelista Silva, revela que as perspectivas dos impactos no mundo da educação acontecem, principalmente, em dois eixos: o primeiro, na questão do aprendizado, e o segundo, no aspecto psicológico.
“A defasagem no aprendizado nestes anos de 2020 e 2021 praticamente são irreversíveis, dado que muitos alunos estão na fase final do processo, um aluno do ensino médio ou mesmo da fase de transição. Mas eu citaria algo mais agravante ainda do que essa realidade, que é o impacto psicológico da pandemia na vida escolar”, analisa.
Renan aponta, por exemplo, que os alunos estão sofrendo com crises de ansiedade, baixa autoestima, problemas na alimentação e infelizmente, tem crescido o número de alunos tentando o suicídio, ou fazendo uso de medicamentos fortes.
“O que me preocupa é o impacto na saúde mental dos nossos alunos, o impacto social, por exemplo, alunos que não convivem com seus amigos presencialmente há mais de um ano. Crianças apresentando problemas de alimentação, então, são impactos grandiosos na vida escolar”, sintetiza.
Os obstáculos no domínio das tecnologias durante a pandemia
Para o membro da Comissão Teológica Diocesana, o professor Jerry Adriano Villanova Chacon, outro aspecto impactante na vida dos professores é o de que tiveram que “dormir presenciais e acordar remotos”.
“Se adaptar e se reinventar exigiu muita capacidade de articulação do domínio rápido das tecnologias, de resiliência, portanto, além dos professores, pensando nas equipes, coordenadores, diretores, auxiliares nas escolas, nas comunidades e nas famílias, não tem como negar que as famílias nem todas têm a estrutura para acompanhar os estudantes em casa”, comenta.
Segundo o professor e ex-secretário de Educação de Mauá, Wagner Cipriano, a pandemia chegou num momento em que não houve tempo hábil para discussão de outros métodos e técnicas de ensino.
“Então, a pandemia provocou uma desarticulação muito grande nos sistemas educacionais, principalmente, no meio público. Esse dano que foi provocado ao sistema educacional brasileiro por conta dessa parada necessária, obviamente, porque a vida é prioridade”, pondera.
Na opinião de Cipriano, que já participou das manhãs de espiritualidade da Pastoral da Educação e encontros com educadores na Diocese de Santo André, as adaptações se tornaram um empecilho, pois muitos professores e alunos não estavam preparados para aulas apenas no universo online.
“A educação passou a sofrer algumas questões de ordem estrutural, porque faltava acesso à internet, faltava conhecimento aos professores para fazer o domínio das tecnologias, enfim, uma série de coisas que a gente ainda não teve tempo para poder se adaptar (quando as aulas presenciais foram suspensas e a pandemia foi oficializada pela OMS, a Organização Mundial da Saúde, em março de 2020 )”, frisa.
Inclusão digital ainda é um grande desafio
Os impactos mais visíveis estão na esfera pedagógica e no desenvolvimento da estrutura das escolas. “Então, podemos pensar sim, na questão econômica que assola diversas escolas particulares, e dentro desse contexto do impacto, com certeza, os mais vitimados são os estudantes que acabam tendo aí uma grande buraco no processo formativo”, revela o professor Jerry Adriano.
De acordo com o educador, ainda que muitas redes e escolas tenham conseguido se adaptar ao ensino remoto, fazendo uso das tecnologias para esse processo, mesmo assim, a aprendizagem é prejudicada, sobretudo quando se pensa na exclusão digital, que é muito grande no Brasil.
Pesquisa do TIC Domicílios, realizada pelo Cetic (Centro Regional e Estudos para Desenvolvimento da Sociedade de Informação) divulgada em 2019 revela que 46 milhões de pessoas não tinham acesso à internet no Brasil, sendo que 45% dos brasileiros explicam que a falta de acesso se dá pelo serviço muito caro e para 37% dessas pessoas, a ausência de computador, aparelho celular ou tablet contribuem para as dificuldades no acesso à rede mundial de computadores. O levantamento também aponta que 75% da população urbana é usuária da internet, enquanto quase metade da população rural não tem acesso à internet: 47%.
“Nem todos (alunos) conseguem ter acesso aos meios tecnológicos para participarem das aulas. Outro fator é que nem sempre ter acesso aos meios tecnológicos significa acompanhar as sequências didáticas, acompanhar o processo de ensino. Então, nesse sentido, com certeza haverá aí uma lacuna a ser preenchida, muita coisa a ser retomada”, atesta.
Impactos sociais aprofundam desigualdade
O abre e fecha das escolas ao longo da pandemia atingiu não somente os profissionais da educação, mas também aqueles trabalhadores que dependem do universo escolar para o sustento das famílias. Logicamente, esse gargalo aprofundou a desigualdade social em tempos de Covid-19, com o crescimento do desemprego, a falta de renda e o aumento da pobreza.
“Para muitos (pais), a escola além do ambiente formativo, também é um espaço de seguridade de deixar as crianças para o exercício do trabalho. Então, esses são impactos concretos que envolvem aqueles que circundam o ambiente escolar. Não podemos esquecer de tantas pessoas que dependem do ambiente escolar para a sua vida, o pessoal do transporte escolar, do comércio, da alimentação, afetando-os do ponto de vista econômico”, explica.
Retomada escolar pós-pandemia
O professor Wagner Cipriano afirma que o debate do momento é “qual escola teremos?” na retomada pós-pandemia. “Precisamos pensar que escola a gente quer, os desafios de ordem sanitária que ainda existem, a pandemia não foi embora. Então, os desafios de ordem pedagógica estão voltados à questão de pensar como adequar às novas técnicas, os novos modelos, os novos pontos para esses grupos (de ensino), e de como vamos rever esses alunos de volta, como vamos fazer com que os alunos que não conseguiram acompanhar o ensino remoto, para que eles recuperem o tempo perdido”, destaca.
“Temos um conjunto de desafios grandes. Essa retomada escolar pós-pandemia vai exigir de nós algo que também é importante. Há um cuidado pedagógico, sanitário, mas psicológico. Muitos professores e pais estão cansados, a sociedade como um todo desgastada emocionalmente. Então é necessário que seja feito todo um trabalho de ordem emocional, espiritual para que a gente possa retomar essas situações”, antecipa.
Legado e conscientização
Enquanto a maioria dos docentes e dos estudantes (principalmente crianças e adolescentes) ainda não recebem as doses das vacinas contra a Covid-19, a recomendação é para que os professores e pais reavaliem a volta às aulas presenciais, de maneira consciente e responsável, seguindo todas as orientações de medidas sanitárias como o distanciamento mínimo de dois metros, utilização de máscaras, lavagem das mãos com água e sabão ou álcool em gel.
“Sei que não é fácil ficar com os filhos em casa por mais de um ano. Além do trabalho, tem toda a atenção e amparo psicológico. Mas se possível, se conseguir, deixe o filho tendo aulas online e mostre para ele, que o grande aprendizado que podemos ter é a resiliência, o amor ao próximo e a compaixão. Talvez esse seja o grande legado desse momento que estamos vivenciando”, enfatiza o coordenador diocesano da Pastoral da Educação.
Source: Diocese