O Papa Francisco autorizou a promulgação dos decretos relativos às virtudes heroicas dos Servos de Deus Enrica Beltrame Quattrocchi, filha do casal beatificado em 2001, do frade franciscano Plácido Cortese, morto nas torturas infligidas pela Gestapo, e da jovem mãe de Cinisello Balsamo, Maria Cristina Cella Mocellin.
Três figuras marcadas pela entrega ao amor de Deus, confiança na sua misericórdia e esperança no seu perdão. Estas são as características que marcam os novos Veneráveis Servos de Deus. Após a audiência, nesta segunda-feira (30/08), com o prefeito da Congregação das Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, o Papa Francisco autorizou o Dicastério a promulgar os Decretos relativos às virtudes heróicas de Enrica Beltrame Quattrocchi, Plácido Cortese e Maria Cristina Cella Mocellin.
“Ricardo, um presente para nós”
A história de uma mãe que recorda a história de Gianna Beretta Molla e de Chiara Corbella Petrillo. É a vida breve mas fecunda de Maria Cristina Cella Mocellin, nascida em 18 de agosto de 1969, em Cinisello Balsamo, na província de Milão. Crescida em paróquia, iniciou o seu caminho de discernimento vocacional na comunidade das Filhas de Maria Auxiliadora de Dom Bosco durante os anos de colégio. O encontro com Carlo aos 16 anos a fez mudar de perspectiva. Sentiu-se chamada ao matrimônio. Dois anos depois a descoberta de um sarcoma na perna esquerda. Tratamentos e terapias não a impediram de concluir os estudos do Ensino Médio e se casar com Carlo em 1991. O casal teve dois filhos, mas assim que Maria Cristina descobre que está grávida de seu terceiro filho, a doença reaparece.
A escolha é dar continuidade à gravidez, submetendo-se a tratamentos que não colocariam em risco a vida do bebê. Numa carta, ela conta aqueles momentos a Riccardo, seu terceiro filho: Me opus com todas as minhas forças a desistir de você, tanto que o médico entendeu tudo e não disse nada. Riccardo, você é um presente para nós. Foi naquela noite, no carro de retorno do hospital, que você se mexeu pela primeira vez. Parecia que estava me dizendo “Obrigada mãe por me amar!”. Como poderíamos não amar você? Você é precioso, e quando olho pra você e o vejo tão bonito, vivaz e simpático, penso que não há sofrimento no mundo que não valha a pena suportar por um filho. Maria Cristina faleceu aos 26 anos, certa do amor do Pai, fiel a Ele em seus desígnios.
Uma família amada por Deus
Nove anos após sua morte em Roma, a Igreja reconhece as virtudes heroicas de Enrica Beltrame Quattrocchi, última filha do Beato Luigi Beltrame Quattrocchi e Maria Corsini, falecida aos 98 anos. Uma família que viveu um caminho de santidade, demonstrando, disse João Paulo II que os beatificou em 2001, que “é possível, é bonito, é extraordinariamente fecundo e é fundamental para o bem da família, da Igreja e da sociedade”.
Enrica estava decidida a seguir os passos de seus irmãos: padre Tarcisio, irmã Cecilia e padre Paolino, mas seu destino era diferente, sua vocação foi acompanhar seus pais idosos. No trabalho voluntário, nas Damas de São Vicente com as quais ia aos bairros mais difíceis da capital, na Ação Católica junto com sua mãe, dedicou-se ao ensino. A partir de 1976, foi Superintendente do Ministério do Patrimônio Cultural e Ambiental. A sua vida foi marcada por várias doenças, por dificuldades econômicas, mas sobretudo pela oração, pela participação cotidiana na missa. Nos últimos anos, passou seu tempo ajudando casais em crise. O amor de Deus foi sua razão de vida.
O homem da caridade e da palavra
A característica marcante do frade menor conventual Plácido Cortese foi a capacidade de se entregar totalmente. Paciente, simples, pronto para enfrentar situações difíceis como as que marcaram os últimos anos de sua vida. Nascido em 7 de março de 1907 em Cherso (hoje Croácia), em 1930 tornou-se sacerdote, prestou serviço na Basílica de Santo Antônio em Pádua e alguns anos depois tornou-se diretor da revista “O Mensageiro de Santo Antônio”.
Durante a II Guerra Mundial, em nome do Núncio Apostólico na Itália, dom Francesco Borgongini Duca, ajudou os croatas e eslovenos nos campos de concentração italianos, especialmente em Chiesanuova, perto de Pádua. Seu compromisso foi incansável, após o armistício de 1943, para facilitar a fuga de ex-prisioneiros aliados, mas também de pessoas perseguidas pelos nazistas, incluindo judeus. Uma disponibilidade que foi interpretada pelos alemães como atividade política e que o levou à morte. Em 8 de outubro de 1944, por meio de um estratagema, foi atraído para fora da Basílica de Santo Antônio, que ficava numa área extraterritorial. Foi levado para o quartel das SS em Trieste, onde morreu após as duras torturas que sofreu.
Fonte: Benedetta Capelli/Mariangela Jaguraba – Vatican News
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