Ouvimos esta pergunta ao constatar a dificuldade crescente que as pessoas têm para conviverem pacificamente. Viver na sociedade sempre foi um desafio, porém, hoje, a impressão que se tem é que a convivência pacífica está se tornando impossível. São significativos os dados que indicam a infelicidade, causada pela incapacidade de conviver, que as pessoas provam com o consequente corolário de desentendimentos, brigas, vinganças, crimes, mortes etc.
A época moderna, que tanto progresso trouxe à humanidade, começou sob o signo da valorização do indivíduo. Penso, logo existo! Ouse pensar, portanto, faça a crítica e coloque-se no centro do Universo. O antropocentrismo trouxe benefícios, porém, quando o homem se coloca no centro, como se fosse Deus, sente a vertigem do poder, da autossuficiência. Instala-se o individualismo, marca da cultura do consumo, da globalização. Esta cultura funda-se no ter e não no ser, portanto, relacionar-se não tem valor, o que vale é possuir.
A dificuldade para se entender com os outros é consequência deste estado de coisas. O outro é sempre ameaça, compete comigo, é alguém a ser vencido. Já dizia Sartre, profeta do existencialismo ateu: “O inferno são os outros”. Cresce especialmente entre os jovens a ideia de que “ser feliz é amar a si mesmo o suficiente para não precisar de ninguém”. Nossa cultura favorece a proliferação de narcisistas que no dizer de Theodore Rubin, “são pessoas que se tornam o próprio mundo e acabam crendo que são o mundo inteiro”.
Assim, o conceito de liberdade, palavra-chave para se entender a cultura moderna, se torna sinônimo de falta de limites. Não é de se estranhar que os desencontros se agudizem, desde a dificuldade de conviver com o vizinho, até a dificuldade de se entender, existente entre as nações. Tome-se como exemplo o descompasso entre países ricos e pobres, numa questão tão urgente como a questão climática, a guerra na Ucrânia. Por que não se entendem?
Porque falta diálogo, isto dificulta o entendimento entre as pessoas, grupos, nações. Diálogo que é característica própria do ser humano, animal racional. Diálogo que é escuta, respeito, consideração, acolhida. Quantos conflitos não foram desarmados e resolvidos com o convite: “vamos conversar?”. O ser humano não é só indivíduo, ninguém é uma ilha, já foi dito, o ser humano é também pessoa, e pessoa é “um nó de relacionamentos”.
Sem diálogo ninguém se entende, sem diálogo não há solução para nenhum problema humano. Sem saber dialogar uns com os outros não se é capaz de dialogar com o grande Outro: Deus! E nesta incapacidade de dialogar surge a violência como opção, uma opção que não é solução para nada, ao contrário do diálogo.
Nestes dias em Roma, no Sínodo do qual estou participando, tudo gira em torno do diálogo, do caminhar juntos como Igreja. Realmente esta é a solução. Do contrário, cria-se uma situação de frustação insustentável porque: “O que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma” (Mt. 16,26). Extensivamente alma aqui é o sentido da vida, o gosto de viver em comunhão com os outros e com Deus.
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