A paz é o grande anseio de toda humanidade. Para tanto, almeja-se a boa convivência entre as pessoas nas relações familiares e sociais, de maneira fraterna e solidária, além do respeito aos espaços de espiritualidade de cada um. A vida plena, portanto, é fruto da paz artesanal, construída diariamente com a participação de todos.
Por outro lado, com frequência, a humanidade se vê imersa em diversos tipos de violência, em todos os níveis e regiões. Também entre nós, como sabemos, isto se revela uma terrível e insistente realidade. São variadas as causas, com destaque à enorme desigualdade social agravada nos últimos tempos.
Mais recentemente, porém, nos deparamos com episódios de violência extrema contra professores, agentes escolares e estudantes, de forma tristemente espetaculosa. Agora já é um fato inarredável que a violência transpôs os limites das escolas e as invadiu de maneira assustadora.
O que assistimos hoje é, nitidamente, uma escalada atroz com diferentes causas. Nos anos recentes, aumentou a apologia e a venda das armas; as fakes news e a boataria hostil também cresceram muito (principalmente pelas redes sociais); exaltou-se até mesmo a tortura por frequentes falas de autoridades; as práticas discriminatórias e o bullying também se espalharam por todos os lados; a violência contra as mulheres e crianças assumiu proporções pavorosas, em todos os lugares. Isto sem falar de muitas outras formas de agressividade e ataque, com requintes de crueldade e ferocidade, que se verificaram neste período.
A escola não restaria ilesa a isto. Na verdade, era algo tristemente esperado. A escola não se afigura uma ilha isolada de conhecimento, cultura, ética, paz e prosperidade. Recebe enorme influência de tudo que acontece no país e no mundo. Portanto, é parte integrante do sistema em que vivemos. Se a sociedade vai mal, os desafios da escola são ainda maiores para encontrar meios de se contrapor a esta grave situação.
As dificuldades, todavia, não podem nos deter nesta caminhada e no corajoso enfrentamento do problema. A escola deve ser um lugar especial, de incentivo ao conhecimento, à cultura, à ética, à convivência com a diversidade e aos elevados valores humanos, pois, sem dúvida, revela-se o único instrumento efetivo de transformação e evolução sociocultural de uma nação.
De sorte que não basta, simplesmente, aumentar o efetivo de policiais e o número de câmeras de monitoramento nas instituições educacionais. Isto não vai resolver o problema e, se for mal adotado, pode até agravá-lo. A escola deve ser um ambiente harmônico, lúdico, seguro-afetivo, no qual todos se sintam estimulados e livres para expandir seus conhecimentos e bem desenvolver seus afetos e emoções. Um ambiente escolar com ares prisionais não vai resolver o problema e não deve ser encarado como destino inevitável.
É preciso atuar vigorosamente na construção de uma cultura de paz, de respeito a valores verdadeiramente humanos e éticos; incentivar a solução pacífica das controvérsias e adotar programas apropriados de convivência e superação de práticas discriminatórias e hostis; favorecer a mediação de conflitos e priorizar a justiça restaurativa ao invés da punitiva; edificar a cultura do diálogo aberto, franco e fraternal; adotar medidas de apoio, assistência e solidariedade aos estudantes e seus familiares; implementar programas para maior integração da escola com os serviços públicos e a comunidade local, atentos principalmente às situações dos mais vulneráveis; melhorar a qualidade da alimentação escolar, para que os estudantes não sofram da fome e desnutrição, uma das piores formas de violência contra as crianças e adolescentes; estabelecer alguma forma de acompanhamento, adequado, no uso das redes sociais, especialmente entre os mais jovens; incentivar e investir em práticas esportivas e culturais, que são grandes colaboradores na cultura da boa convivência e da paz; e formar redes de proteção e assistência às unidades escolares das diversas redes educativas, sejam elas municipais, estaduais ou federais.
São apenas algumas das propostas que precisam se materializar para que este problema da violência nas escolas seja eficazmente enfrentado e não se agrave ainda mais nos próximos meses ou anos.
Para tanto, urge aos movimentos sociais e populares de educação retomar a organização dos fóruns de educação, visando debater formas variadas de promoção da cultura da paz, ética e do conhecimento solidário e fraterno.
Por fim, conclamamos ao senhor Governador do Estado de São Paulo, aos senhores Prefeitos da região do ABCDMR paulista e seus Secretários e aos senhores Presidentes das Câmaras de Vereadores que promovam, o mais rápido possível, a realização de grandes conferências locais e regionais de educação, com participação efetiva da sociedade, especialmente daqueles imersos no tema da educação, além de estudiosos e pesquisadores em todos as questões pertinentes a isto.
Só assim, obteremos diagnósticos mais precisos e medidas mais eficazes para enfrentar adequadamente este grave fenômeno que pode comprometer o presente e sobretudo o futuro de nossa região e do país.
Santo André, 21 de abril de 2023.
Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Santo André – ABCDMR paulista.
Pastoral da Educação da Diocese de Santo André – ABCDMR paulista.
Source: Diocese