O tempo da Quaresma é um tempo favorável para o encontro com Jesus no sacramento da reconciliação, visto que, ao nos aproximarmos de Jesus através dos exercícios quaresmais do jejum, esmola e oração buscamos rever nossa caminhada cristã a fim converter nosso coração e buscar a comunhão com Deus e com os irmãos. Somos convidados a fazer uma experiência com o sacramento da reconciliação que manifesta esta conversão.
A reconciliação faz parte da experiência da vida, uma vez que, eventualmente, acabamos enfrentando dificuldades em nossos relacionamentos com amigos e familiares. É inconcebível uma vida sem relações sociais, visto que desde o nascimento precisamos de cuidados para sobreviver. Além da necessidade do relacionamento com os outros, também precisamos cultivar o relacionamento com Deus, possibilitado pelo Batismo. Nele temos a origem e fim de todo ser humano (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 27) e, pelo sacramento da reconciliação temos a possibilidade de reestabelecer nossos relacionamentos essenciais.
Em toda Santa Missa, no Ato Penitencial, temos a oportunidade de reconhecer nossos pecados, fraquezas e limites, além de implorar a misericórdia de Deus, mas a sua absolvição só é concedida pelo sacramento da reconciliação. Só nele temos a celebração do perdão de Deus, o encontro com a misericórdia divina, que é maior que qualquer pecado, e nos possibilita a graça do perdão de nossas faltas e, com isso, o reestabelecimento da graça santificante. A graça, por sua vez, nos faz progredir no caminho da santidade, além de propiciar a reconciliação consigo mesmo – o que possibilita a verdadeira paz e liberdade interior – a reconciliação com Deus – recuperando a sua amizade –, e por fim a reconciliação com a Igreja, que retoma a comunhão com os irmãos em Cristo.
Todo fiel tem por obrigação confessar os pecados graves ao menos uma vez por ano (cf. cânon 989 do Código de Direito Canônico), mas esta obrigação não deve ser compreendida sem as condições necessárias para realização do Sacramento que foi instituído por nosso Senhor Jesus Cristo e confiado à Igreja, como encontramos no evangelho, no relato da tarde da Ressurreição, no qual Jesus diz: “Recebei o Espírito Santo; os pecados daqueles que perdoardes serão perdoados. Os pecados daqueles que não perdoardes não serão perdoados” (Jo 20, 22-23).
As condições necessárias para uma confissão proveitosa são elencadas no número 225 do Diretório Diocesano dos Sacramentos e nos ajudam a compreender a grandeza do Sacramento. Em primeiro lugar é importante realizar um exame de consciência onde, considerando o amor de Deus por nós e as infidelidades de nossa parte, tomamos consciência do pecado e seguimos com os quatro passos: contrição, confissão, absolvição e penitência.
A contrição manifesta o arrependimento necessário para uma verdadeira conversão, expressa a dor de quem, com seu pecado, ofende a Deus. Ela pode ser perfeita, quando é motivada pelo amor para com Deus, ou imperfeita, quando tem outros motivos, como o temor pelas consequências do pecado. A confissão é a declaração dos pecados graves cometidos e não confessados diante do sacerdote. A absolvição é dada ao fiel pelo confessor que, na pessoa de Cristo, oferece o perdão dos pecados. Por fim, tem-se a penitência que o sacerdote apresenta, que consiste na expressão do compromisso que o fiel assume de esforço para uma mudança de vida.
Este não é o sacramento da vergonha, pois o que está no centro não é a lista de nossos pecados e a nossa humilhação, mas, como nos propõe o Papa Francisco, deve ser o sacramento da alegria no qual encontramos a oportunidade de nos aproximarmos de Deus que nos perdoa sempre. A vergonha pode surgir como sinal de arrependimento, mas deve ser superada na confissão, onde nós lembramos que “Deus nunca Se envergonha de ti. Ama-te mesmo no ponto em que te envergonhas de ti mesmo. E ama-te sempre.” (Encontro do Papa Francisco com os jovens na viagem apostólica a Budapeste 14 de setembro de 2021).
Além do perdão dos pecados, através deste sacramento temos a possibilidade de experimentar o poder da cura de um coração ferido pelo pecado e encontrar uma luz poderosa para progredir no seguimento de Jesus Cristo. Fazendo parte do povo que em Cristo foi reconciliado com Deus e tomando cada dia mais consciência da riqueza do sacramento da reconciliação, que tenhamos coragem de nos aproximar e ir ao encontro de Jesus que, por meio da Igreja, quis continuar exercendo este ministério de perdão.
Autor: Victor Pereira Guimarães, Seminarista do 3º ano da Casa de Formação Teológica
Source: Diocese