Os acontecimentos que cercam a vida de santo Hermenegildo são tão interessantes como um romance. Mas causaram muitas perplexidades entre os historiadores e hagiógrafos: alguns a contragosto reconhecem-lhe a santidade. A sua rebelião armada contra o pai não é de modo algum justificada por muitos. O desacordo começou logo com os primeiros quatro biógrafos: enquanto João, abade de Biclaro e depois bispo de Gerona, é hostil e santo Isidoro de Sevilha é ao menos perplexo, são Gregório de Tours oferece uma atenta narração e são Gregório Magno tece um verdadeiro panegírico. A verdade, como sempre, está no meio. O meio é praticamente este: Hermenegildo era filho de Leovigildo, que em 567 sucedeu a Atanagildo e foi o primeiro visigodo a ter a insígnia do título de rei e legado imperial na Espanha.
Os visigodos, que Clóvis havia definitivamente abandonado na Espanha, tinham abraçado o cristianismo, mas de forma herética, a ariana, que lhes foi proposta na segunda metade do século IV pelo bispo Ulfila. Os francos, seus vizinhos, porém, eram cristãos católicos. Por motivos políticos, os visigodos se uniam com eles em matrimônio. Também Hermenegildo, cuja mãe Teodósia era católica, recebera educação ariana, mas desposou uma princesa católica. Esta, Ingonda, era sobrinha da segunda mulher de Leovigildo, Goswinta, viúva de Atanagildo e ariana “revoltada”: a tradicional hostilidade entre católicos e arianos tinha compreensivelmente aumentado em Goswinta pelo fato de sua filha, tia de Ingonda, ter sido morta tragicamente pela mão de um príncipe “católico”.
Goswinta tentou em vão, por bem ou por mal, “converter” Ingonda: um dia, após haver duramente batido nela, despiu-a e arrastou-a a uma piscina para rebatizá-la, contra a sua vontade. Para fazer cessar as tensões, Leovigildo exilou o filho Hermenegildo para Sevilha. Aqui o jovem abraçou o catolicismo e, talvez com a aprovação de são Leandro, irmão de santo Isidoro, pôs em prática um plano de insurreição contra o pai, pedindo a ajuda dos bizantinos e suevos. Foi derrotado, porém, e se rendeu diante das garantias propostas pela mediação de seu irmão Recaredo.
Jogado ao cárcere de Valência e em Tarragona, aqui se desenvolveu o último ato do drama. No dia de Páscoa, 25 de março de 585, Hermenegildo recusou-se a receber a Comunhão das mãos de um bispo ariano mandado por seu pai. Por este motivo foi imediatamente executado. Dada essa circunstância, ele foi verdadeiro mártir. Pelas pressões de Filipe II, em 1586, Xisto V fixou a memória de santo Hermenegildo mártir a 13 de abril.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.
FONTE: PAULUS
Source: Igreja no Mundo