Após haver inutilmente procurado, João Visdomini topou, numa sexta-feira santa, com o assassino do seu irmão. Estavam em lugar solitário, fora das Portas de são Miniato. O jovem, filho do nobre Gualberto Visdomini, puxou instintivamente a espada. O antigo adversário, desarmado, caiu de joelhos e abriu os braços, tacitamente suplicante. Aquela atitude que projetava a sombra de uma cruz, dissuadiu o feroz cavaleiro. Com gesto inesperado e generoso, ergueu da terra o assassino do irmão e o abraçou em sinal de perdão. Com o coração ainda em tumulto, João foi ajoelhar-se diante do crucifixo da igreja de são Miniato. Cristo, contam os biógrafos do santo, moveu a cabeça em sinal de aprovação. Uma grande paz invadiu sua alma. Decidiu por isso abandonar o mundo e foi bater na porta do mosteiro beneditino, vencendo as desculpáveis resistências do pai.
A bravura do nobre cavaleiro, mitigada mas não domada pela rígida disciplina monástica, reapareceu quando se tratou de defender a honra da Igreja, espezinhada pela corrupção dos falsos pastores. Alvo de sua santa cólera foram o próprio abade do mosteiro e o bispo de Florença, Mezzabarba. Ameaçado por ambos teve de se refugiar entre as selvas dos Apeninos, no monte ao longo do verde vale do Arno. O nome deste monte, Vallombrosa, se tornará famoso nos séculos pelo mosteiro que são João Gualberto aí edificou. Uma grande casa rústica, feita com madeira e cal, ofereceu abrigo aos numerosos jovens que aí afluíram, atraídos pela santidade do monge e decididos como ele a combater o mau costume da simonia.
De Vallombrosa descem realmente os monges, temperados da Regra beneditina reformada. Primeiro à vizinha Florença, depois a várias cidades da Itália operaram aquela benéfica transfusão de operosa santidade, seguindo o exemplo do santo abade: corrigir com os costumes as próprias instituições civis. Os florentinos confiaram aos monges valombrosianos até as chaves do tesouro e o sigilo da República. João Gualberto declarara guerra aos abusos e à imoderada procura do dinheiro e das honras. Mas não pôde subtrair-se ele mesmo à fama de sabedoria que se difundiu por toda a Itália.
O papa Leão XI realizou uma longa viagem para fazer-lhe uma visita. Aos seus monges, antes de morrer, em 1073, havia dito: “Quando quiserem eleger um abade, escolham entre os irmãos o mais humilde, o mais doce, o mais mortificado”. Sem ostentação e retórica, traçava assim o perfil de sua própria alma.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.
FONTE: PAULUS
Source: Igreja no Mundo