Pio IX a chamava “a casa do milagre”. O cônego Cottolengo, quando as autoridades lhe ordenaram fechar a primeira casa, já repleta de doentes, como medida de precaução ao progresso da cólera em 1831, carregara as poucas coisas sobre um burro e com duas freiras, dirigiu-se, fora da cidade, na localidade de Valdocco. Sobre a porta de um velho casarão leu: “Hospedaria do Brentatore”. Ele inverteu a insígnia e escreveu: “Pequena Casa da Divina Providência”. Poucos dias antes dissera com toda a simplicidade camponesa ao cônego Valletti: “Senhor reitor, sempre ouvi dizer que a couve para que cresça sólida e forte precisa ser transplantada. A Divina Providência transplantada se tornará grande couve”.
José Cottolengo nasceu em Bra, província de Cúneo, em 1786. Primeiro de doze filhos, fez com grande proveito todos os estudos até o doutoramento em teologia, em Turim. Vigário cooperador em Corneliano de Alba, celebrava a missa às 3 da madrugada para que os camponeses pudessem ouvi-la antes de ir aos campos de trabalho: “A colheita será melhor com a bênção de Deus”, dizia-lhes. Cônego em Turim, após ter assistido impotente à morte de uma mulher, cercada de seus filhinhos chorosos, à qual tinham sido negados os cuidados hospitalares pela sua extrema indigência, vendeu o pouco que possuía, inclusive o manto, alugou alguns quartos e deu início à sua obra benéfica, oferecendo asilo gratuito a uma velhinha paralítica.
À mulher que lhe confessava não ter nenhum dinheiro para as despesas, respondeu: “Não importa, a Divina Providência pagará a despesa”. Após a mudança para Valdocco, a Pequena Casa cresceu visivelmente e começou a delinear-se aquele prodigioso quotidiano da cidade do amor e da caridade que hoje o mundo todo conhece e admira com o nome de “Cottolengo”. Dentro daqueles muros, erguidos pela fé, existe serena operosidade de república modelo, que satisfaria ao próprio Platão.
A palavra “deficiente” aqui não tem sentido. Todos são “bons filhos” (os asilados do Cottolengo são chamados “bons filhos”). Para todos há um trabalho adaptado que ocupa seu tempo e torna mais apetitoso o pão de cada dia. “A vossa caridade — dizia às irmãs — deve expressar-se com toda a boa graça para conquistar os corações. Haveis de ser como um bom prato servido à mesa, cuja aparência produz alegria”. Sua forte fibra não resistiu por muito tempo ao duro trabalho. “Meu burro já está empacando”, admitia bonachão. No leito de morte convidou, pela última vez, seus filhos a agradecerem com ele à Providência. Suas últimas palavras foram: “Iremos para a casa do Senhor”. Era o dia 30 de abril de 1842.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.
FONTE: PAULUS
Source: Igreja no Mundo