A liturgia de hoje é um sinal de amor de Deus-Pai para conosco, seus filhos adotivos. A Igreja se alegra e volta seu olhar e seu coração ao céu e rende graças ao contemplar a multidão que participa da glória de Deus, celebrando a solenidade de todos os Santos. Os santos, que já chegaram à presença de Deus, mantêm conosco laços de amor e comunhão.
Atesta-o o livro do Apocalipse, quando nos fala dos mártires intercessores: “Vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos, por causa da Palavra e Deus e por causa do testemunho que deram.
E clamavam em alta voz: Tu, que és o Poderoso, o Santo, o Verdadeiro!” (GE 4). Na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, escrita pelo Papa Francisco, o termo santidade traduz o encontro da fragilidade humana com a força da graça, e por isso ser santo é tornar-se plenamente humano (GE 34). “A santidade é feita de abertura habitual à transcendência, que se expressa na oração e na adoração” (GE 146). A santidade é fruto do Espírito (GE 15). Ele purifica, ilumina (GE 24), encoraja, é parresia, é ousadia, é impulso evangelizador que deixa marca neste mundo (GE129). O dinamismo do Espírito Santo modela nossa existência sobre a vida de Jesus ressuscitado e enche de alegria a vida dos discípulos de Cristo (GE 124).
O Evangelho segundo Mateus (cf. 5,1-12a) convida-nos a reconhecer a verdade do nosso coração, para ver onde colocamos a segurança da nossa vida. “Feliz os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (v.3), Jesus chama feliz os pobres em espírito, os que têm o coração pobre, onde pode o Senhor entrar o Senhor com sua incessante novidade.
“Feliz os mansos, porque possuirão a terra” (v.5). A mansidão é a expressão da pobreza interior, de quem deposita a sua confiança apenas em Deus. Como diz Jesus, “Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito (Mt 11,29). “Felizes os que choram, porque serão consolados” (v.4). É os que são capazes de reconhecer a necessidade de, em meio às suas aflições, chorar no seu coração, capazes de se deixar consolar por Jesus, saber chorar com os outros. “Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (v.6); esta justiça começa por se tornar realidade na vida de cada um, quando se manifesta a busca da justiça para os pobres e vulneráveis.
“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (v.7); é reconhecer que mesmo em nossa fragilidade fomos olhados com compaixão divina. “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (v.8). Esta bem-aventurança diz respeito a quem tem um coração simples e puro.
Na Bíblia, o coração significa as nossas verdadeiras intenções: “o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração” (1Sm 16,7). “Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (v. 9); os pacificadores são fonte de paz, constroem paz e amizade social. Aqueles que cuidam de semear a paz para todos. “Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu” (v.10); para viver o Evangelho, não podemos esperar que tudo à nossa volta seja favorável, pois as perseguições são inevitáveis àqueles que assumem a missão de Jesus. E o maior incentivo para a busca da santidade numa vida realmente bem-aventurada, feliz segundo os critérios evangélicos, vem da promessa de Jesus: “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 12).
Vivamos com intensidade e alegria a busca pela santidade, o rosto mais belo da Igreja!
* Artigo por Romário da Rocha Cunha, Seminarista Diocesano
Source: Diocese