No dia-a-dia nossos afazeres e preocupações se multiplicam. Preocupações com o quê? Com a vida, basicamente lutarmos pela vida.
Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Escolhe pois a vida! É o apelo que recebemos numa realidade de morte, onde a violência crescente é demonstração cabal de que o valor da vida está em baixa.
A vida é o dom maior que recebemos e devemos defender. Denuncia-se a cultura de morte que coloca a ganância de bens materiais, sucesso e individualismo como valores absolutos. A defesa da vida é urgente!
Vivemos entre vida e morte. Não existe vida sem morte e a morte persiste sendo o grande desafio. Diante do aumento de suicídios em todo mundo e a pandemia da covid-19, a questão da morte se coloca como contraponto para a questão da vida.
Para nossa cultura, a morte é assunto tabu, mas não deveria. Quem se esquivar da discussão sobre a morte, se esquivará da discussão sobre o que chamamos vida. O pensamento sobre a morte está ligado à pergunta sobre o sentido da vida. Quando uma vida tem sentido, a morte também o terá.
Nas primeiras décadas do século passado, a morte ainda era tratada com dignidade. O ato de morrer era um acontecimento vivenciado por pessoas da família e amigos: a morte e o morrer têm um sentido! Nas últimas décadas, porém, a morte é vista como absurdo, um fim detestável, do qual se tenta esquivar. É acontecimento privado: se deve morrer escondido. O morto atrapalha a vida de todo mundo. Na maioria das vezes, morrer é interpretado como falência da arte da medicina.
Com a morte sendo vista como absurdo, também a vida se torna absurda. Provamos isto neste tempo de pandemia que vivemos. Somente a grande solidariedade vivida neste tempo, nos abre as portas da esperança.
A vida humana é energia e nenhuma energia se acaba no universo: se transforma. Assim sendo, a ciência não pode negar o fato de a vida ter uma continuidade após a morte. Contudo, nem mesmo aceitando uma vida após a morte desparece a indignação, o medo e a angústia diante da morte. E tudo isso se reflete na vida: “Que divindade é esta, que, tendo criado o ser humano, deixa-o, depois, torna-se comida para os vermes?”, indaga o filósofo cristão Kierkegaard.
Penso que junto com o empenho em favor da vida digna para todos, deva haver um esforço para recuperar o sentido da morte e do morrer para o ser humano. “A maneira pela qual nossa sociedade nega a morte não traz esperança, somente aumenta nosso medo e vontade de destruir”, afirma a Dra. Kubler-Ross, estudiosa de tanatologia.
Devemos redescobrir o Deus da vida que se manifestou em Jesus Cristo morto e ressuscitado, para que assim a morte se transforme em vida, vida eterna e feliz. Jesus é Deus que sofre e morre conosco, e passando pela morte, ele a vence e nos leva com ele nesta vitória.
O credo cristão reza: “creio na vida eterna”! Isto é fonte de esperança e paz, diante da morte inevitável!
*Artigo por Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André
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