Chamou minha atenção, creio também de muitos leitores, a reportagem publicada no Diário do Grande ABC sobre a violência que tinge as mulheres: “a cada 40 minutos, a Justiça concede medida protetiva no Grande ABC (cf. Setecidades 07/05/2023 – 1). Ao todo entre 2019 e abril de 2023 a Justiça liberou 11.114 medidas protetivas para mulheres e meninas aqui no Grande ABC.
A vida confirma e as notícias o mostram. Além de constatar que vivemos em uma sociedade violenta, o que podemos pensar? A ignorância humana no trato com as pessoas e a natureza não melhorou. O avanço tecnológico deveria servir mais a vida que a morte, o avanço nas comunicações deveria aproximar mais as pessoas que as dividir, mas não é assim.
A desarmonia, aquilo que na Bíblia se chama de pecado, se instalou entre nós, quebrando a comunhão das pessoas com Deus, entre si e com a natureza. Abrem-se feridas dolorosas no espírito e na carne. E acaba atingindo as pessoas não só moralmente, mas também fisicamente.
Nesta onda de violência generalizada, alguns grupos de pessoas são mais vulneráveis e atingidos, como é o caso das mulheres. No período agudo da pandemia, aumentou a violência conta as mulheres. Triste constatação.
Nas redes sociais que se percebe o tanto de mulheres que aparecem perseguidas, violentadas física e moralmente, submetidas a condições de escravidão, muitas até à morte. O feminicídio é uma chaga aberta em nossa sociedade. Seu número é maior que os denunciados. Por vezes, a mulher que sofre a violência tem medo, vergonha, e até por causa dos filhos, não denuncia a violência nem busca ajuda.
A sociedade civil já deu passos significativos para erradicar este mal, como é o caso da Lei Maria da Penha. Mas precisa avançar.
O cristianismo repudia toda violência, também esta, com base no quinto mandamento da Lei de Deus: “Não matarás” (Ex 20,13). Aí está o princípio moral de que a vida humana, dom de Deus, deve ser sempre respeitado, protegido e defendido. Para a consciência cristã a vida humana é sagrada. Aliás isto está inscrito no íntimo de cada ser humano, é uma “lei natural”, como se fosse um instinto.
Este mandamento, porém, segundo ensinou Jesus, nos diz que é desumano não só tirar a vida, mas também, agredir, prejudicar a vida das pessoas e toda falta de cuidado e desrespeito com a dignidade da vida humana, do homem e da mulher.
Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança, homem e mulher Ele os criou (Gn 1,27). A dignidade da vida dos dois vem de seu princípio comum: Deus. A sociedade machista ultrapassada, pretendia que somente o homem seria imagem de Deus e não a mulher. Absurdo! O relato bíblico da criação diz que a mulher nasceu do lado do homem, como companheira. São chamados a viver um para o outro, cuidando-se mutuamente.
As mulheres histórica e socialmente continuam subjugadas na maior parte da população mundial. O clamor de liberdade e dignidade das mulheres precisa ser ouvido pela sociedade.
* Artigo de Dom Pedro Carlos Cipollini
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