Nos despedimos no dia 6 de julho, quarta-feira, na Catedral Metropolitana da Sé do Cardeal Cláudio Cardeal Hummes (87 anos), que faleceu após lutar por três anos contra um câncer no pulmão.
O último rito fúnebre contou com a presença dos bispos de vários lugares do Brasil; Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo; o Núncio Apostólico Dom Giambattista Diquattro que celebrou o rito, nosso bispo diocesano Dom Pedro Carlos Cipollini e o bispo emérito Dom Nelson Westrupp.
Não tem como não sermos gratos pela vida de Dom Cláudio Hummes, que em 29 de dezembro de 1975 assumiu nossa diocese, no mesmo dia que Dom Jorge havia renunciado. Deu continuidade à atuação de seu antecessor, e acompanhou o desenvolvimento histórico das lutas trabalhistas feitas principalmente pelos trabalhadores metalúrgicos, organizados nos sindicatos.
Seu amor por nossa Diocese
Sempre preocupado com a formação dos futuros padres, ressaltou que o “povo precisa de bons pastores”, tendo um cuidado muito especial com a formação dos futuros padres, incentivando a Pastoral Vocacional e projetando a criação do seminário, construindo duas casas de formação filosófica e teológica.
Padre Décio Rocco (pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Região Pastoral Santo André Centro), presente na celebração lembra de como foi recebido pelo cardeal na diocese: “Fui acolhido no seminário por Dom Cláudio em 1986 e fui ordenado presbítero também por ele em 1996. Durante esse tempo que esteve conosco, sempre teve uma presença acolhedora, sempre preocupado com os padres. Com os seminaristas, se preocupava com uma boa formação, para se tornarem bons padres ao povo de Deus. Teve um olhar aos mais humildes, criando e atuando com as pastorais sociais, como a Pastoral Operária. Deixa um grande legado e todo o carinho que tinha por todos nós”.
O trabalho leigo sempre foi muito valorizado por Dom Cláudio. Confiou paróquias e comunidades a religiosas e leigos, especialmente preparados para isso. Incentivou a atribuição de ministérios, pelos quais os leigos passam a exercer funções importantes na vida paroquial, tanto na linha de evangelização como na preparação para receber os sacramentos. Preocupado com a necessidade de formar o laicato, no ano de 1992, organizou um curso de evangelização por correspondência onde ele ministrou aulas da Doutrina Social da Igreja para mais de 500 leigos; fundou, em 1993, o Instituto de Teologia para Leigos com carga curricular de uma Faculdade de Teologia cujo curso tinha a duração de cinco anos.
Durante os anos que esteve à frente da Diocese, tivemos quatro planos de pastoral, a grande meta de todos eles foi a Evangelização, isto é, fazer com que o povo se conscientizasse de que a mensagem de Cristo só pode assumir seu verdadeiro significado quando encarnada na vida real, no dia a dia de cada um.
Na riqueza de sua atuação pastoral na Diocese de Santo André, chamou a atenção na pessoa de Dom Cláudio seu amor pela Igreja, pelo Papa e sua postura de homem que tem da História uma visão dinâmica, atualizada e engajada, dando-nos a entender que o Espírito de Deus atua na História da humanidade.
Este legado de Dom Cláudio, amor evangélico aos pobres, ultrapassou o território de nossa Diocese e se tornou um legado para a Igreja no mundo em dois acontecimentos: quando no conclave de 2013, logo após se constatar a eleição do Papa Francisco, Dom Cláudio o abraçou e disse: “não esqueças dos pobres” (fato narrado pelo próprio Papa) e quando se tornou emérito aceitou a presidência da Comissão Episcopal para a Amazônia que lhe foi oferecida pela CNBB, criou a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e, às vésperas de seus 85 anos, com ardor missionário defende os direitos dos indígenas e dos povos ribeirinhos, que devem ser preservados.
A amizade com Papa Francisco e a amor pela Amazônia
Em um telegrama lido pelo núncio apostólico, Papa Francisco envia uma mensagem de condolências “Quero assegurar-lhe dos sufrágios que elevo ao altíssimo pelo eterno descanso deste querido irmão. Minhas preces são também de gratidão a Deus pelos longos anos de seu dedicado e zeloso serviço, sempre pautado pelos valores evangélicos, à Santa Mãe Igreja nos diversos encargos pastorais que lhe foram confiados tanto no Brasil quanto na Cúria Romana, e por seu empenho em anos recentes pela Igreja que caminha na Amazônia”.
Relembra sobre a fala do cardeal no dia do conclave em 2013: “Trago sempre vivas na memória as palavras que dom Cláudio me disse no dia 13 de março de 2013, pedindo-me que não me esquecesse dos pobres”, escreve Francisco, enviando a bênção apostólica ao arcebispo de São Paulo e a todos os que se unem em oração para as exéquias do cardeal Hummes, como penhor de consolação e de esperança na vida eterna.”
O arcebispo de Huancayo, no Peru, e presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) e da Rede Eclesial da Amazônia (REPAM), cardeal Pedro Barreto, também enviou uma carta citando a importância de Dom Cláudio na luta pela Amazônia e os povos indígenas, sendo lida ao final da celebração. (clique aqui para ler na íntegra)
Coragem para enfrentar as dificuldades e ser fiel até o fim
Dom Odilo Pedro Scherer, cardeal arcebispo Metropolitano de São Paulo, em sua homilia reforçou a fidelidade a Deus de Dom Cláudio: “Quem vê o Filho e Nele crê, tem a vida eterna. Poderia existir uma palavra mais confortadora para nós que celebramos a despedida do estimado Cardeal Cláudio Hummes? Ele creu nisso. Dedicou sua vida inteira para proclamar que Jesus é Filho de Deus Salvador e ajudar a outras pessoas a se encontrarem com Ele e, também, crerem nele”.
“Poderia haver maior conforto na hora morte e constatar sem falsa consciência de que ‘combati o bom combate, cheguei ao fim da minha missão, guardei a fé? Que possamos dizer isto a nós mesmos e diante de Deus, a morte nem sempre tem explicação racionalmente aceitável, mas a fé e a confiança em Deus nos dão motivo de serenidade. É Ele quem vive e é capaz de nos dar mais vida e vida em plenitude. Podemos dizer como o salmista: sei que a bondade eu hei de ver na terra dos viventes”, finalizou.
Seguindo o rito da Última Encomendação e Despedida e após todas as homenagens, Dom Giambattista Diquattro realizou a encomendação do corpo, seguido do sepultamento na cripta da catedral metropolitana.
Source: Diocese